Era uma vez um homem simples. Não um homem simplório, desses que nem se nota ou quando se nota se sente pena. Não, apenas simples de descomplicado mesmo. Mas essa história começa ainda antes desse homem ser homem, no sentido completo da palavra. Começa quando o homem ainda era um menino. Um menino simples. Nascido e criado no interior de um país qualquer, que poderia ser o Brasil. Num estado qualquer, que poderia até ser o Paraná. Numa vilinha qualquer, que era nova a vila. Uma "vila nova", pode se dizer. Sem muitas pretensões, eu diria, crescia o tal menino. Sua família, uma família simples. Tão simples quanto uma família de camponeses pode ser. E quase sempre é. De pai e mãe agricultores, vindos do extremo sul do tal país como migrantes em busca de um futuro, o menino mais uns quantos irmãos, uma meia duzia acho, nem mesmo era o mais velho. Nem o mais novo também. Nada de especial tinha esse menino. Assim ele pensava. E acho que todo mundo também pensava isso.
O tempo foi passando e o menino foi crescendo, fazendo coisas de menino, escola, trabalho, traquinagem. Algumas traquinagens, pelo que sei! Mas, segundo as lendas, ele nunca era o culpado... E nem duvido, já que era um menino tão simples. Como não era o mais velho, seus irmãos maiores saíram na frente nos estudos. Teve irmão doutor e tudo! Mas ele nem ligava, ou pelo menos assim sempre deu a entender. E também não era o mais novo, não tinha nenhuma regalia extra. E assim ia levando sua vida simples de menino simples, num lugar simples inclusive, diga-se de passagem. Acho até que ele era um menino feliz, mas não posso afirmar com certeza. Mas acho que era.
O tempo passou um pouco mais, e o menino simples foi se tornando um adolescente. Um adolescente simples. Continuava com poucas pretensões, penso. Como qualquer pessoa simples é. Como todos deveríamos ser também. Dentre não muitas atitudes ousadas que poderia se esperar desse menino simples, ele tomou uma afinal. Saiu de casa. La pelos quinze. Radical... Mas continuou com a simplicidade com que fora abençoado desde que nasceu. Continuou a trabalhar, só que na cidade. Escola, bem, essa abandonou. Por que quis, acho, não sei ao certo, pois potencial até sobrava. Traquinagem já não fazia mais, afinal não era mais um menino. Já não fazia mais coisas de menino. Agora fazia coisas de ...Quase homem. E assim ia seguindo, e conheceu uma garota. Mais velha ela. Não muito, uns dois anos só. Ah, isso sim, já era coisa de homem! - Pensava ele, provavelmente. E ai a história dele começou a ter mudanças significativas. Foram viver juntos. Na verdade sobreviver, pelo que sei. Passaram umas barras juntos. Até quase fome. Mas acho que só foi quase mesmo. Nem imaginava ele que dentro de pouco tempo teria sua vida definitiva e radicalmente alterada...
Não foi planejado. Nem mesmo acho que ele tenha algum dia pensado nisso. Nem de longe, ouso dizer. E até porquê nada se sabe sobre ele ter sido exposto à raios gama, nem mordido por alguma aranha radioativa. Tampouco absorvia força de nosso sol amarelo. Cinturões multi utilidades, armadura cibernética, capa... Sem chance. Até que manejava uma enxada e um martelo decentemente, mas não soltavam raios. O fato é que aos dezessete, ele (sobre) vivia com sua garota e casaram-se. Não sei bem se antes ou depois do "evento/advento". Acho que em virtude dele, até. E foi mais ou menos quando tudo começou... Num dia qualquer de março, no finalzinho da década de setenta, aquele menino simples, que agora se tornara homem (e nem sabia), recebeu algo inusitado e maravilhosos. Super poderes! Sim, isso mesmo, ele seria um super herói! E foi sua garota quem descobriu primeiro e lhe contou. Puxa vida, que coisa louca... Que fazer com eles? Como agir? Será que iria dar conta? Fico a imaginar qual foi a reação do homem naquele momento. Ou melhor, naqueles momentos, já que , segundo sua garota, os poderes só iriam se manifestar de verdade após alguns meses. "La paro o fim do ano", disse ela, "em outubro".
E assim, la pro fim de outubro de 1979, (ano interessante esse: Figueiredo assume no Brasil, Margaret Tatcher sobe ao poder na Inglaterra, eu nasci...) aquele homem simples, que até então não possuía aspirações que fossem muito além de uma vida normal (e simples...), que nunca sonhara muito alto, que precisava de pouco mais que o básico par viver, tornou-se o mais novo herói que o mundo conhecia. Seus feitos? Ah, colossais, eu diria. Monumentais, titânicos, épicos...E simples. Tão simples que pessoas demasiadamente ordinárias nem os reconheceriam. Mas eu, felizmente consegui reconhecê-los. nem sei se sou ou não ordinário, mas os reconheci. E, só para frisar, não é qualquer um que tem a honra de conhecer um herói em carne e osso! Muito menos conviver com um. E os poderes? Ah, os poderes desse herói...São simplesmente fantásticos! Ele é dotado de super paciência, ainda que tenha gritado um pouquinho de vez em quando. Comigo inclusive, mas sempre com razão! Ele tem o misterioso poder da visão do futuro, e sempre o utiliza em conjunto com outro super poder, o da sabedoria infinita, em forma de conselhos e admoestações incrivelmente assertivas. Ta, nem sempre são tão tão assertivas assim, mas nunca inúteis. Também possui o magnífico poder do sorriso cordial hipnotizante, capaz de desarmar o pior dos inimigos e cativar qualquer incauto que cruzar seu campo de alcance, mesmo que as vezes saia amarelo e com expressão cansada. Sem falar na sensacional habilidade sobrenatural da honestidade inabalável, que em verdade as vezes titubeia, mas só em virtude das decepções dessa vida ingrata, mas não passam de um pensamento passageiro. Mas sem a menor dúvida, o maior e mais incrível poder que esse homem simples, que, talvez não seja super, mas com certeza é um herói, mesmo que não se considere como tal, é o seu fenomenal amor incondicional, tão forte, puro e verdadeiro que ele nem parece se esforçar para demonstrá-lo. E sei que ele existe, mesmo que nem sempre o demonstre. E a cada ano que passa, seus poderes, acreditem, aumentam mais e mais.
Ok. Talvez para muitos esses poderes não sejam la grande coisa. Talvez muitos não considerem um homem simples como este, um herói. Quem sabe para outros os heróis sejam apenas ficção, coisa de histórias em quadrinhos ou filmes de ação. Mas não para mim. Não, definitivamente não tem como eu negar sua existência, pois eu vi ele! Eu cresci com ele, vivi com ele. Por muitos anos. E ainda hoje tenho contato com ele, e o vejo sempre que possível e sou testemunha de seus incríveis poderes. Diria mais, por mais falho que seja, gosto de pensar que sou fruto desse convívio com este herói. Que pelo menos o meu lado bom seja resultado da exposição direta aos seus poderes por todos esses anos. E que um dia eu ( não custa sonhar, né?) possa ter a honra de vir a, quem sabe, não substituí-lo, mas pelo menos poder auxilia-lo em suas super tarefas. Por quê não? Afinal, alguns heróis têm ajudantes, ora...
O homem simples voltou para suas origens, há tempos já, e eu acho que sei porquê! Acho que é porque la, no campo, fica sua fonte de super poderes, sim! Mesmo que ele talvez nem desconfie disso... E é claro que este herói tem um nome, mas como todo herói que se preze sua identidade é secreta, e utiliza um codinome, ou vários até, pelo qual é reconhecido. Querem saber qual é? Bom, eu costumo chamá-lo de meu pai.
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