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03 maio 2015

O MAL por trás do MAL

Injustificável.
Os eventos ocorridos neste dia 29 de abril último, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, foram decididamente mais um marco negro na triste, e porquê também não dizer patética, história política/social da nossa gigantesca nação tupiniquim. Me refiro especificamente à ação violenta dos soldados da polícia militar do estado contra os manifestantes que lá se encontravam reivindicando direitos da classe dos professores servidores do estado. Uma atitude injustificável, imperdoável e definitivamente equivocada por parte do governador Beto Richa, assim como suas lamentáveis declarações legitimando seu erro após o ocorrido, sem a menor sombra de dúvida. Mas... Já há bastante coisa dita nos discursos inflamados (ou nem tanto) redes sociais à fora. Não vim aqui para falar do fato em si que, em suma, nada mais é do que a consequência, o reflexo de uma sociedade débil e alienada que sequer se dá conta do estado de demência em que se encontra. Venho aqui para discorrer sobre a origem desse mal. Ou, pelo menos tentar expor como vejo isso tudo.
Observando os acontecimentos, admito que fiquei abismado com alguns fatos marcantes em meio ao caos instaurado que gerou este incidente. Seja o fato de termos manifestantes apanhando como se fossem bandidos (isso pra quem concorda que bandido tem que apanhar. Eu concordo), seja por ver policiais (nem todos, claro, pois tivemos alguns com atitude honrosa lá também) agindo tal qual robôs com senso de obediência maior do que o senso de moral ou mesmo sobre a iminente falência da máquina pública (aguardem pra ver...). E tudo isso envolto nessa maçaroca de injustiça, impunidade e descaso por parte tanto de governantes quanto de governados. Entretanto, o que me deixou realmente estarrecido, perplexo, apreensivo, perturbado e indignado de verdade, é ter me dado conta do grau de monstruosidade que alcançou o ego humano na nossa tão famigerada sociedade contemporânea. Tenho acompanhado, como a maioria, estes acontecimentos via telejornais e mídias sociais, e fiquei chocado ao perceber (ao ver na verdade ao vivo e a cores, pois em teoria já sabia disso faz tempo) o quanto os nossos interesses pessoais são infinitamente mais importantes do que o bem estar comum da sociedade. Trocando em miúdos, é o tal do “se me afeta diretamente, eu me importo. Se não me afeta, foda-se o mundo”. E isso ficou bem claro ao observar o grau de solidariedade gerado por estes tristes acontecimentos que citei no início do texto, em detrimento, por exemplo, do movimento dos caminhoneiros que houve e ainda há brasil à fora. Vou exemplificar para ficar mais claro.
Lembro–me perfeitamente que algumas semanas atrás, quando a greve dos caminhoneiros estourou, com vários bloqueios nas rodovias da nossa região inclusive, o quanto algumas (várias!) pessoas, após alguns dias de paralisação, se mostravam irritadas e indignadas com aqueles manifestantes (vejam bem: indignadas COM eles, e não POR eles!), demonstrando sua indignação principalmente nas redes sociais, vitrine desses discursos “haters(clique na palavra para ver definição) tão comuns hoje em dia nas mídias sociais. Tinha de tudo: era uns dizendo que o segmento era desorganizado, outros dizendo que eram baderneiros, aqueles que defendiam que os caminhoneiros estavam “chorando
And tha's it.
 de barriga cheia”, outros tantos com aquele papo de “não sabem gerir seus recursos”, enfim, de tudo um pouco. E haviam também aqueles que não estavam nem ai mesmo, “tocando um foda-se” pra tudo. E confesso que tenho mais respeito por estes últimos do que pelo restante, desde que se mantenham neutros até o fim (o que duvido que consigam). O fato é que apenas quem tinha, de alguma maneira, ligação com o segmento (transporte) realmente entende o sofrimento e o desespero desta classe que protestava à sua maneira. E ainda assim, dentre estes ditos “entendidos do assunto”, nem todos apoiavam ou pelo menos entendiam o que os caminhoneiros estavam (estão!) reivindicando, que nada mais é do que o direito à um trabalho digno. Ideia esta que, por sinal, não é muito diferente, analisando de maneira sucinta, do que os professores do estado do Paraná estariam pedindo em suas manifestações. Concordamos nisso, certo? Pois bem. O que quero destacar aqui, é o fato que me dei conta esta semana, observando novamente as manifestações de apoio (virtuais, via redes sociais mesmo, para variar...) das pessoas em relação ao movimento do professores e mais especificamente em virtude do conflito do dia 29. Houve uma comoção imensa e generalizada por parte da sociedade como um todo, gerando um sentimento solidário que normalmente se vê em ocasiões em que desastres naturais e coisas do gênero acontecem. Em meio à estas declarações de apoio e solidariedade, de caráter hater ou não, acabei notando um fato bem interessante, (que na verdade foi o gatilho para este post). Percebi que muitas daquelas pessoas que lá atrás, quando da manifestação dos caminhoneiros, “desaprovavam”, criticavam ou mesmo não se manifestavam (que que eu falei sobre respeitar os que se mantém neutro? Há!) estão se posicionando favoráveis aos professores agora, declarando sua indignação solidária e tudo mais (tudo virtualmente, claro. Ir lá carregar faixa e tomar porrada com os coitados ninguém quer, né? Como somos hipócritas...). Nada contra o apoio “incondicional” (#SQN) desse pessoal. Mas... Qual a diferença entre uma manifestação e outra? Acaso a causa dos professores é mais nobre do que a dos caminhoneiros? Ou seria por preconceito mesmo, por se tratar de uma classe (a dos caminhoneiros) formada em sua grande maioria por pessoas de pouca representatividade, sem muita instrução e com reputação (erroneamente!) duvidosa? Ou quem sabe pelo fato de os professores terem um sindicato (hug! Me dá asco só de lembrar em quem um certo sindicato "criou" aqui no Brasil...) mais oportunista organizado do que o dos caminhoneiros eles merecem mais crédito? (Sim, pois se alguém ainda tem dúvida de que esse movimento só “funciona” em função do sindicato que está por trás... por favor, acordem!) Pois saibam que nada disso responde, de maneira satisfatória e por completo, a questão. O motivo pelo qual simpatizamos ou não com uma ou com outra manifestação, meus amigos e amigas, é bem simples de se entender. É por puro INTERESSE PESSOAL. Isso mesmo. Egoísmo, falta de senso de empatia, total descaso para com o nosso próximo. Independentemente das instituições, dos movimentos, dos sindicatos, somos todos movidos pelo nosso gordo e pomposo ego. Mas calma, antes do vosso “não é bem assim”, eu explico. Não é uma mera crítica que estou “destilando” aqui, tem fundamento o que lhes coloco, e vocês logo entenderão o porquê.
A raiz de todo mal no ser humano, seja ele brasileiro, inglês, alemão, africano, chinês ou de qualquer outra raça, nacionalidade, cor, credo ou orientação sexual (agora tem que ficar colocando essa distinção também...), é sempre a mesma: o egoísmo. Existe uma velha história/teoria/lenda/causo/ditado que diz não existir o “mal em essência”, que todos estamos apenas tentando fazer quilo que é bom... para nós! E que nesse processo, muitas (e muitas, e muitas, e muitas... ad aeternum!) vezes acabamos prejudicando outrem em virtude de querermos alcançar/obter/atingir algo em favor próprio. Eu concordo (parcialmente. Existe o mal puro sim e ele é sutil e sorrateiro) e partilho desse entendimento, e é com base nele que faço estas afirmações. Quando alguém que antes se dizia incomodado ou prejudicado ou simplesmente contra a greve dos motoristas e agora se diz apoiador ou meramente “simpatizante” da causa dos professores, nada mais está fazendo do que adotando um posicionamento que lhe trará mais vantagens ou lhe garantirá menos desvantagens. E isso é instintivo, caso não tenhamos controle total de nossas vontades, atitudes e ações. Cerca de 99,999 % de das pessoas só... E por si só, o conhecimento deste dado já seria mais que suficiente para nos auto justificarmos e dar continuidade ao nosso “equívoco existencial”. E há um atenuante/agravante nessa situação. Do ponto de vista “marqueteiro”, os professores levam uma larga vantagem sobre os caminhoneiros com relação à gerar empatia junto à população, que é justamente, como já citei, a questão da reputação que cada classe trás consigo. Enquanto uns são os “mestres do conhecimento” (os profes) os outros, geralmente, levam a equivocada fama de “malandros da estrada” (os motoras) e definitivamente isso faz a diferença na hora de arrebatar simpatizantes para suas causas. E por fim, mas não menos decepcionante, tem a mídia, que acaba reforçando tudo isso, quando deixa de expor uma situação na totalidade de seus fatos (como fez com a greve dos caminhoneiros), e apresenta somente o que lhes convém, da forma que melhor lhes sirva. Por outro lado, a “cruzada” dos professores do estado não pode reclamar de falta de ibope... Mas não vou entrar no mérito, foi mesmo só para ilustrar.
Calma... Respira, respira...
Agora, pode continuar!
ATENÇÃO, antes de continuar entenda uma coisa: se há algum hater que inadvertidamente entrou aqui e está lendo estas linhas e se “inflamando”, antes de “explodir” (é assim que eles fazem quando leem sobre algo que lhes deixa com raiva. Eu sei bem!) atenha-se ao fato de que estou fazendo uma colocação pontual e não simplesmente nivelando por baixo! Não são todos as pessoas que compartilham das atitudes que estou descrevendo (mas a grande maioria, com certeza...). Assim como há professores dignos e comprometidos encabeçando sua causa de maneira séria, também há aqueles que nem sabem pelo que estão lutando. E com caminhoneiros não é diferente. Há os guerreiros do asfalto e também há os vagabundos itinerantes. Capisce? Nem pra um lado, nem pro outro...

Continuando: O que percebo quando vejo algumas pessoas compartilhando posts em apoio à manifestação dos professores e que torciam o nariz pros caminhoneiros, é gente que se identificou com a causa (dos professores) pelo simples fato, muitas vezes, de não estarem sendo prejudicadas. Outras vezes por partilharem de uma mesma condição empregatícia (órgãos públicos e tal) e sentirem-se “ameaçadas por tabela” (aqui se enquadraria, num exemplo para melhor ilustrar, aquela questão da terceirização das chamadas atividades fim, onde vejo muito servidor público contra o projeto por medo de ter sua condição como servidor prejudicada caso haja terceirização na administração pública, por exemplo. Mas não vou ir além neste assunto pra não gerar mais polêmica). Da mesma forma, mas no contra fluxo, estes mesmos cidadãos se diziam contra a greve dos caminhoneiros pelo simples fato de se sentirem prejudicados! (Não estou inventando esse dado não, e nem foi apenas por observação que percebi. Realmente tive a oportunidade de conversar com várias pessoas que tinham essa visão) E/ou até mesmo por não estarem ganhando nada com isso (os “falsos neutros”). Lembrem-se que faltou combustível, as rodovias ficaram lentas e até interditadas em alguns lugares, transportadoras atrasaram suas entregas em virtude dos bloqueios, aconteceram acidentes... Enfim, houveram vários contratempos que “afetaram” o dia a dia da população.  Teve um amigo que até fez uma piada na época, demonstrando seu “desconforto”, quando eu disse que ele estava sendo muito sarcástico, e este retrucou dizendo que não, que seu “estoque de sarcasmo havia acabado e a entrega do novo carregamento estava presa em algum bloqueio de caminhão” ... Tive que rir, já que é amigo...(rsrsrsrs). Piadas sem graça de amigos à parte, é exatamente isso o que acontece. Somos movidos pelos nossos interesses pessoais. Se tenho vantagem, “to dentro”. Se não tenho, “to fora”. Se me convém, apoio. Se me incomoda, sou contra. E dane-se a necessidade alheia! Foda-se o próximo! “Ao invés de ficarem reclamando, por que não se prepararam e fizeram concursos”? (Tive que ouvir/ler essa também...) “Não é tão ruim assim! Podia ser pior! Podia ser comigo!” E por aí vai... E olha que aqueles que têm filhos em idade escolar, no ensino médio, também está se vendo muitas vezes em apuros por não ter com quem deixar as crianças nestes dias de greve, mesmo assim existe o apoio solidário aos professores. Mas, talvez, estas pessoas que se incomodaram com a greve dos caminhoneiros tenham ficado sem combustível na época ou deixaram de cumprir algum prazo por que a transportadora atrasou a entrega de uma mercadoria. Ou quem sabe tiveram que enfrentar filas e congestionamentos (nossa, que coisa “inaceitável” !!) e se atrasaram algumas vezes no trabalho. E é bem provável que não tenham filhos na escola, ou seriam contra esta greve dos professores também. Gente... Não há lado certo ou errado quando a luta é justa. Há apenas pontos de vista diferentes sobre um mesmo fato ou aspecto. Se temos tanta dificuldade em perceber isso, se não conseguimos sequer nos colocarmos no lugar de nosso próximo, se estamos tão mortos por dentro que somos incapazes de nos compadecer do sofrimento alheio, é sinal que
realmente tem algo errado na maneira com que percebemos o mundo ao nosso redor. Os professores tem razão em estar reivindicando seus direitos? Eu acredito que sim. E os caminhoneiros, acaso também não teriam? Com certeza também. Percebem? Por que elegemos uma causa e discriminamos a outra? O que nos leva a simpatizarmos com uma e ignorarmos a outra? Por que sempre somos movidos por essa dualidade infinita? Eu arrisco a resposta: pela conveniência. Então, fica o meu “conselho solidário”. Antes de nos manifestarmos a favor ou contra qualquer movimento reivindicatório, seja ele qual for, seria interessante avaliarmos as situações com isenção de ânimos. Deixemos de lado um pouco
Auto explicativo.
nossas conveniências. Esqueçamos por um instante que para nós, que “fizemos por merecer”, não falta nada, ou quase nada. Engulamos o nosso tão querido orgulho de ter conquistado algo por esforço próprio e sejamos mais humildes, pelo menos o suficiente para percebermos quando um irmão precisa de nossa ajuda. Deixemos por um momento apenas nossa zona de conforto e busquemos experimentar nos colocar no lugar daquele que passa necessidades, sejam elas quaisquer. Sejamos menos egoístas e mais altruístas, se de início não com atos, ao menos comecemos pela nossa forma de pensar. É difícil, eu concordo, mas não é impossível, pois toda causa é justa quando é para o bem maior de todos, e o único lugar onde o EU vem antes do NÓS sem causar prejuízos à todos é só na hora de se conjugar um verbo. Para todo resto, o plural sempre virá antes do singular.