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12 fevereiro 2018

Ouvinte, obediente


O olhar gentil que penetra minh‘alma
Desperta em mim um sentir esquecido
Um sorriso meigo que encanta e acalma
Reencontro daquilo que achava perdido

Com doces palavras de anil singeleza
Da mostras de um vasto saber ancestral
Por trás do vigor adornado em beleza
Um gentil coração de valor sem igual
As tão (des) conhecidas janelas da alma...

O tom pardo impresso na face serena
Escondendo à vista segredos formosos
Disfarça a grandeza da sem-par pequena
De olhos miúdos e cachos graciosos

Se apenas acaso ou flauteio do destino
De fato não sei e nem faço questão
Pois sinto outra vez como quando menino
O fugaz descompasso da conhecida canção



(Anderson)

19 agosto 2016

Tentativas

Eu bem que queria...
Ser adepto do rizo à toa
keep trying...
Cruzar o mar de canoa
Ou partir pra virar gente boa

Eu até que gostaria...
De entender o que canta o vento
Dominar cada sentimento
E extinguir a culpa e o lamento

Talvez eu até poderia...
Divagar como um sonhador
Transformar o frio em calor
Ou sofrer com isenção de dor

Por certo eu deveria...
Deixar pra trás as mazelas
Voltar as salvar donzelas
E ignorar um pouco as cautelas

E é claro que assim seria...
Se o ontem fosse o agora
De um passado que foi embora
Levando os lauréis de outrora

Mas se assim não há de ser...
Que seja melhor que dantes
Ao menos das rimas faltantes
Nos momentos mais importantes


(Anderson)

03 novembro 2015

Julgamento

E vem alguém que mal te conhece
Ajuizando e lhe dizendo o que cabe
Pressagiando o que já acontece
Discursando sobre o que nem sabe

É bem fácil apontar o evidente
Difícil é ver o que leva dentro
Sentir como sente o doente
Presenciar do tremor o epicentro

Mas um dia haveremos de rir
Quando com a nostalgia emergir
As lembranças de tal passagem

E as feridas que hoje doem tanto
Não mais serão causa de pranto
Serão só cicatrizes da viagem 

(Anderson)

25 outubro 2015

Alívio

O "Ciclo Sem Fim":
Começo...
Num furor de impulsos mil
A momentânea cegueira
Saca fora o ser gentil
Dando vazão a leseira
Evocando a besta-fera
Que adormecida espera
O momento de alçar bandeira

Com as emoções explodindo
Da razão brevemente privado
Qual besta selvagem ferindo
Seja inocente ou culpado
Destruindo sem perceber,
Querendo... Mas sem querer,
Tudo que há ao seu lado

... Meio...
E de repente... Vem a calma 
Da ira tirando o efeito
Se apossando da exausta alma
Aliviando a dor no peito
Devagar, sem alarido
Soprando ao pé do ouvido:
“Tudo bem... Dar-se-á um jeito”

É como luz fraca no escuro,
Que alumia bem ao fundo
Sombreando o vau do muro
Qual luzeiro moribundo
Bruxuleia e quase some
Em lufadas se consome
Num lampejo doutro mundo

Talvez seja o tal sentimento
Que ao crente é combustível
E ao ímpio folhas ao vento,
Abstrato e incompreensível
Ou quem sabe seja apenas
... E fim. (?)
Uma estrela, das pequenas,
A brilhar no firmamento

Mas eis que ao final do bordão
A sensação de alívio que resta
Elixir para o coração
Não vem sozinha pra festa
Ao final, e isso é certo,
Quando a besta não mais está perto
Só resta... Implorar por perdão

(Anderson)

03 maio 2015

O MAL por trás do MAL

Injustificável.
Os eventos ocorridos neste dia 29 de abril último, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, foram decididamente mais um marco negro na triste, e porquê também não dizer patética, história política/social da nossa gigantesca nação tupiniquim. Me refiro especificamente à ação violenta dos soldados da polícia militar do estado contra os manifestantes que lá se encontravam reivindicando direitos da classe dos professores servidores do estado. Uma atitude injustificável, imperdoável e definitivamente equivocada por parte do governador Beto Richa, assim como suas lamentáveis declarações legitimando seu erro após o ocorrido, sem a menor sombra de dúvida. Mas... Já há bastante coisa dita nos discursos inflamados (ou nem tanto) redes sociais à fora. Não vim aqui para falar do fato em si que, em suma, nada mais é do que a consequência, o reflexo de uma sociedade débil e alienada que sequer se dá conta do estado de demência em que se encontra. Venho aqui para discorrer sobre a origem desse mal. Ou, pelo menos tentar expor como vejo isso tudo.
Observando os acontecimentos, admito que fiquei abismado com alguns fatos marcantes em meio ao caos instaurado que gerou este incidente. Seja o fato de termos manifestantes apanhando como se fossem bandidos (isso pra quem concorda que bandido tem que apanhar. Eu concordo), seja por ver policiais (nem todos, claro, pois tivemos alguns com atitude honrosa lá também) agindo tal qual robôs com senso de obediência maior do que o senso de moral ou mesmo sobre a iminente falência da máquina pública (aguardem pra ver...). E tudo isso envolto nessa maçaroca de injustiça, impunidade e descaso por parte tanto de governantes quanto de governados. Entretanto, o que me deixou realmente estarrecido, perplexo, apreensivo, perturbado e indignado de verdade, é ter me dado conta do grau de monstruosidade que alcançou o ego humano na nossa tão famigerada sociedade contemporânea. Tenho acompanhado, como a maioria, estes acontecimentos via telejornais e mídias sociais, e fiquei chocado ao perceber (ao ver na verdade ao vivo e a cores, pois em teoria já sabia disso faz tempo) o quanto os nossos interesses pessoais são infinitamente mais importantes do que o bem estar comum da sociedade. Trocando em miúdos, é o tal do “se me afeta diretamente, eu me importo. Se não me afeta, foda-se o mundo”. E isso ficou bem claro ao observar o grau de solidariedade gerado por estes tristes acontecimentos que citei no início do texto, em detrimento, por exemplo, do movimento dos caminhoneiros que houve e ainda há brasil à fora. Vou exemplificar para ficar mais claro.
Lembro–me perfeitamente que algumas semanas atrás, quando a greve dos caminhoneiros estourou, com vários bloqueios nas rodovias da nossa região inclusive, o quanto algumas (várias!) pessoas, após alguns dias de paralisação, se mostravam irritadas e indignadas com aqueles manifestantes (vejam bem: indignadas COM eles, e não POR eles!), demonstrando sua indignação principalmente nas redes sociais, vitrine desses discursos “haters(clique na palavra para ver definição) tão comuns hoje em dia nas mídias sociais. Tinha de tudo: era uns dizendo que o segmento era desorganizado, outros dizendo que eram baderneiros, aqueles que defendiam que os caminhoneiros estavam “chorando
And tha's it.
 de barriga cheia”, outros tantos com aquele papo de “não sabem gerir seus recursos”, enfim, de tudo um pouco. E haviam também aqueles que não estavam nem ai mesmo, “tocando um foda-se” pra tudo. E confesso que tenho mais respeito por estes últimos do que pelo restante, desde que se mantenham neutros até o fim (o que duvido que consigam). O fato é que apenas quem tinha, de alguma maneira, ligação com o segmento (transporte) realmente entende o sofrimento e o desespero desta classe que protestava à sua maneira. E ainda assim, dentre estes ditos “entendidos do assunto”, nem todos apoiavam ou pelo menos entendiam o que os caminhoneiros estavam (estão!) reivindicando, que nada mais é do que o direito à um trabalho digno. Ideia esta que, por sinal, não é muito diferente, analisando de maneira sucinta, do que os professores do estado do Paraná estariam pedindo em suas manifestações. Concordamos nisso, certo? Pois bem. O que quero destacar aqui, é o fato que me dei conta esta semana, observando novamente as manifestações de apoio (virtuais, via redes sociais mesmo, para variar...) das pessoas em relação ao movimento do professores e mais especificamente em virtude do conflito do dia 29. Houve uma comoção imensa e generalizada por parte da sociedade como um todo, gerando um sentimento solidário que normalmente se vê em ocasiões em que desastres naturais e coisas do gênero acontecem. Em meio à estas declarações de apoio e solidariedade, de caráter hater ou não, acabei notando um fato bem interessante, (que na verdade foi o gatilho para este post). Percebi que muitas daquelas pessoas que lá atrás, quando da manifestação dos caminhoneiros, “desaprovavam”, criticavam ou mesmo não se manifestavam (que que eu falei sobre respeitar os que se mantém neutro? Há!) estão se posicionando favoráveis aos professores agora, declarando sua indignação solidária e tudo mais (tudo virtualmente, claro. Ir lá carregar faixa e tomar porrada com os coitados ninguém quer, né? Como somos hipócritas...). Nada contra o apoio “incondicional” (#SQN) desse pessoal. Mas... Qual a diferença entre uma manifestação e outra? Acaso a causa dos professores é mais nobre do que a dos caminhoneiros? Ou seria por preconceito mesmo, por se tratar de uma classe (a dos caminhoneiros) formada em sua grande maioria por pessoas de pouca representatividade, sem muita instrução e com reputação (erroneamente!) duvidosa? Ou quem sabe pelo fato de os professores terem um sindicato (hug! Me dá asco só de lembrar em quem um certo sindicato "criou" aqui no Brasil...) mais oportunista organizado do que o dos caminhoneiros eles merecem mais crédito? (Sim, pois se alguém ainda tem dúvida de que esse movimento só “funciona” em função do sindicato que está por trás... por favor, acordem!) Pois saibam que nada disso responde, de maneira satisfatória e por completo, a questão. O motivo pelo qual simpatizamos ou não com uma ou com outra manifestação, meus amigos e amigas, é bem simples de se entender. É por puro INTERESSE PESSOAL. Isso mesmo. Egoísmo, falta de senso de empatia, total descaso para com o nosso próximo. Independentemente das instituições, dos movimentos, dos sindicatos, somos todos movidos pelo nosso gordo e pomposo ego. Mas calma, antes do vosso “não é bem assim”, eu explico. Não é uma mera crítica que estou “destilando” aqui, tem fundamento o que lhes coloco, e vocês logo entenderão o porquê.
A raiz de todo mal no ser humano, seja ele brasileiro, inglês, alemão, africano, chinês ou de qualquer outra raça, nacionalidade, cor, credo ou orientação sexual (agora tem que ficar colocando essa distinção também...), é sempre a mesma: o egoísmo. Existe uma velha história/teoria/lenda/causo/ditado que diz não existir o “mal em essência”, que todos estamos apenas tentando fazer quilo que é bom... para nós! E que nesse processo, muitas (e muitas, e muitas, e muitas... ad aeternum!) vezes acabamos prejudicando outrem em virtude de querermos alcançar/obter/atingir algo em favor próprio. Eu concordo (parcialmente. Existe o mal puro sim e ele é sutil e sorrateiro) e partilho desse entendimento, e é com base nele que faço estas afirmações. Quando alguém que antes se dizia incomodado ou prejudicado ou simplesmente contra a greve dos motoristas e agora se diz apoiador ou meramente “simpatizante” da causa dos professores, nada mais está fazendo do que adotando um posicionamento que lhe trará mais vantagens ou lhe garantirá menos desvantagens. E isso é instintivo, caso não tenhamos controle total de nossas vontades, atitudes e ações. Cerca de 99,999 % de das pessoas só... E por si só, o conhecimento deste dado já seria mais que suficiente para nos auto justificarmos e dar continuidade ao nosso “equívoco existencial”. E há um atenuante/agravante nessa situação. Do ponto de vista “marqueteiro”, os professores levam uma larga vantagem sobre os caminhoneiros com relação à gerar empatia junto à população, que é justamente, como já citei, a questão da reputação que cada classe trás consigo. Enquanto uns são os “mestres do conhecimento” (os profes) os outros, geralmente, levam a equivocada fama de “malandros da estrada” (os motoras) e definitivamente isso faz a diferença na hora de arrebatar simpatizantes para suas causas. E por fim, mas não menos decepcionante, tem a mídia, que acaba reforçando tudo isso, quando deixa de expor uma situação na totalidade de seus fatos (como fez com a greve dos caminhoneiros), e apresenta somente o que lhes convém, da forma que melhor lhes sirva. Por outro lado, a “cruzada” dos professores do estado não pode reclamar de falta de ibope... Mas não vou entrar no mérito, foi mesmo só para ilustrar.
Calma... Respira, respira...
Agora, pode continuar!
ATENÇÃO, antes de continuar entenda uma coisa: se há algum hater que inadvertidamente entrou aqui e está lendo estas linhas e se “inflamando”, antes de “explodir” (é assim que eles fazem quando leem sobre algo que lhes deixa com raiva. Eu sei bem!) atenha-se ao fato de que estou fazendo uma colocação pontual e não simplesmente nivelando por baixo! Não são todos as pessoas que compartilham das atitudes que estou descrevendo (mas a grande maioria, com certeza...). Assim como há professores dignos e comprometidos encabeçando sua causa de maneira séria, também há aqueles que nem sabem pelo que estão lutando. E com caminhoneiros não é diferente. Há os guerreiros do asfalto e também há os vagabundos itinerantes. Capisce? Nem pra um lado, nem pro outro...

Continuando: O que percebo quando vejo algumas pessoas compartilhando posts em apoio à manifestação dos professores e que torciam o nariz pros caminhoneiros, é gente que se identificou com a causa (dos professores) pelo simples fato, muitas vezes, de não estarem sendo prejudicadas. Outras vezes por partilharem de uma mesma condição empregatícia (órgãos públicos e tal) e sentirem-se “ameaçadas por tabela” (aqui se enquadraria, num exemplo para melhor ilustrar, aquela questão da terceirização das chamadas atividades fim, onde vejo muito servidor público contra o projeto por medo de ter sua condição como servidor prejudicada caso haja terceirização na administração pública, por exemplo. Mas não vou ir além neste assunto pra não gerar mais polêmica). Da mesma forma, mas no contra fluxo, estes mesmos cidadãos se diziam contra a greve dos caminhoneiros pelo simples fato de se sentirem prejudicados! (Não estou inventando esse dado não, e nem foi apenas por observação que percebi. Realmente tive a oportunidade de conversar com várias pessoas que tinham essa visão) E/ou até mesmo por não estarem ganhando nada com isso (os “falsos neutros”). Lembrem-se que faltou combustível, as rodovias ficaram lentas e até interditadas em alguns lugares, transportadoras atrasaram suas entregas em virtude dos bloqueios, aconteceram acidentes... Enfim, houveram vários contratempos que “afetaram” o dia a dia da população.  Teve um amigo que até fez uma piada na época, demonstrando seu “desconforto”, quando eu disse que ele estava sendo muito sarcástico, e este retrucou dizendo que não, que seu “estoque de sarcasmo havia acabado e a entrega do novo carregamento estava presa em algum bloqueio de caminhão” ... Tive que rir, já que é amigo...(rsrsrsrs). Piadas sem graça de amigos à parte, é exatamente isso o que acontece. Somos movidos pelos nossos interesses pessoais. Se tenho vantagem, “to dentro”. Se não tenho, “to fora”. Se me convém, apoio. Se me incomoda, sou contra. E dane-se a necessidade alheia! Foda-se o próximo! “Ao invés de ficarem reclamando, por que não se prepararam e fizeram concursos”? (Tive que ouvir/ler essa também...) “Não é tão ruim assim! Podia ser pior! Podia ser comigo!” E por aí vai... E olha que aqueles que têm filhos em idade escolar, no ensino médio, também está se vendo muitas vezes em apuros por não ter com quem deixar as crianças nestes dias de greve, mesmo assim existe o apoio solidário aos professores. Mas, talvez, estas pessoas que se incomodaram com a greve dos caminhoneiros tenham ficado sem combustível na época ou deixaram de cumprir algum prazo por que a transportadora atrasou a entrega de uma mercadoria. Ou quem sabe tiveram que enfrentar filas e congestionamentos (nossa, que coisa “inaceitável” !!) e se atrasaram algumas vezes no trabalho. E é bem provável que não tenham filhos na escola, ou seriam contra esta greve dos professores também. Gente... Não há lado certo ou errado quando a luta é justa. Há apenas pontos de vista diferentes sobre um mesmo fato ou aspecto. Se temos tanta dificuldade em perceber isso, se não conseguimos sequer nos colocarmos no lugar de nosso próximo, se estamos tão mortos por dentro que somos incapazes de nos compadecer do sofrimento alheio, é sinal que
realmente tem algo errado na maneira com que percebemos o mundo ao nosso redor. Os professores tem razão em estar reivindicando seus direitos? Eu acredito que sim. E os caminhoneiros, acaso também não teriam? Com certeza também. Percebem? Por que elegemos uma causa e discriminamos a outra? O que nos leva a simpatizarmos com uma e ignorarmos a outra? Por que sempre somos movidos por essa dualidade infinita? Eu arrisco a resposta: pela conveniência. Então, fica o meu “conselho solidário”. Antes de nos manifestarmos a favor ou contra qualquer movimento reivindicatório, seja ele qual for, seria interessante avaliarmos as situações com isenção de ânimos. Deixemos de lado um pouco
Auto explicativo.
nossas conveniências. Esqueçamos por um instante que para nós, que “fizemos por merecer”, não falta nada, ou quase nada. Engulamos o nosso tão querido orgulho de ter conquistado algo por esforço próprio e sejamos mais humildes, pelo menos o suficiente para percebermos quando um irmão precisa de nossa ajuda. Deixemos por um momento apenas nossa zona de conforto e busquemos experimentar nos colocar no lugar daquele que passa necessidades, sejam elas quaisquer. Sejamos menos egoístas e mais altruístas, se de início não com atos, ao menos comecemos pela nossa forma de pensar. É difícil, eu concordo, mas não é impossível, pois toda causa é justa quando é para o bem maior de todos, e o único lugar onde o EU vem antes do NÓS sem causar prejuízos à todos é só na hora de se conjugar um verbo. Para todo resto, o plural sempre virá antes do singular.

21 abril 2015

Essencial

Por vezes me vem à cabeça
Que a mais bela palavra erudita
Sequer do alfabeto careça
E tampouco careça ser dita

Imersa em um mundo abstrato
Nascida do anseio da mente
Dispensa arremate ou bom trato
É contexto daquele que sente

Sem ter pronúncia ou sonância
Que valide a sua existência
É inegável sua importância
Na origem da própria essência

Invade sem ordem ou pedido
Pensamentos e corações
Conforta o desiludido
Permeando suas orações

Dos achegos se torna o olhar
Em linguagem de mil sentidos
Na essência do contemplar
E dos sorrisos descontraídos


Sentença do amordaçado
Harmônica das sepulturas
Ao criador serve em reinado
Inspiração das criaturas
  
Por mais que rebusque um sentido
Uma prova real e plausível
Não existe um nexo escondido
Não se pode dizer o indizível


Mesmo assim, parvos que somos
Nominamos o inominável
Ao invencível nos opomos
E limitamos o ilimitável

Se a palavra, em sua forma materna
Tem poder e até pode criar
É o silêncio a figura paterna
O igual essencial deste par

E por vezes me vem à cabeça...
Pensamentos já recorrentes
Então pra que assim permaneça
Eu sigo a favor das torrentes
  

(Anderson)

22 março 2015

Se não penso, logo desisto.

Responda rápido:
Quem está pensando aqui?
Em meio a devaneios e pensamentos de indignação, os quais venho tendo com frequência ultimamente, me dei conta de uma coisa bem interessante (para mim, ao menos). Há algumas verdades, ou realidades, das quais só nos damos conta quando às  protagonizamo. Não, não vou falar aqui de realidades metafísicas ou espirituais (então nem precisa torcer o nariz...). Falo de coisas práticas mesmo, do nosso cotidiano material. Nos contam, nos falam, ouvimos dizer, lemos a respeito, todos comentam e opinam e até vemos, bem ali do nosso lado vez ou outra. Ainda assim, parece que toda essa “teoria” de caos social, que por acaso está em voga atualmente, não passa de... Teoria! Sim, pois vira e mexe vejo (e até faço, ok) discursos inflamados sobre desigualdades e injustiças da nossa sociedade. E é gente descontente com governo, classes inteiras “revoltadas”, manifestações aqui, gritos de guerra acolá. Sou franco em declarar que me compadeço disso tudo e compactuo da maioria dessas ideias revolucionarias (encausadas, que fique claro!) que pregam a mudança e o bem coletivo maior. Eu realmente vejo que não há ou haverá meios pacíficos (ao contrário do que me disse uma pessoa outro dia, participante de um movimento que vou resumir a “mais oração e menos ação”. Respeito, mas já não concordo) para alcançar a tão sonhada igualdade entre os indivíduos. Entretanto, o que vejo na prática é apenas uma comoção ocasional e inconstante, tão intangível quanto o efêmero mundo virtual que toma conta de nossas vidas atualmente. Escândalos de corrupção eclodem por todos os cantos, a marginalidade cresce vertiginosamente tanto nas capitais quanto nos interiores. O descaso por parte dos governos, sejam eles federal, estadual ou municipal, quando não é simplesmente ignorado, como se fosse normal, é absurdamente justificado com desculpas tão esdrúxulas quanto suas atitudes anticonstitucionais.  Órgãos públicos, como a polícia, receita federal ou INSS, apenas por exemplo, estão todos falidos e sucateados, tamanha a negligência com que foram administrados por anos a fio. Nem vou entrar no mérito das nossas “renomadas” instituições financeiras, os populares bancos, que só fazem alargar ainda mais todo esse caos, tão podre e desleal são suas atividades e políticas (e antes que algum bancário de plantão levante a mãozinha em protesto, não estou falando aqui apenas dos financiamentos suicidas ou dos abusivos juros cobrados em qualquer transação financeira. Falo de toda a sujeira que eles intermediam e até mesmo financiam mundo a fora...) Enfim, poderia encher páginas inteiras com todos os erros grosseiros de nossa sociedade, mas tenho certeza de que todos sabemos do que estou falando. E isso é só o começo.
Curtir ou não curtir? Eis a questão!
(profundos esses dilemas contemporâneos...)
As pessoas, nós, hoje, adstritos que estamos, nos limitamos a apenas (quando o fazemos...) dar um “curtir” nas redes sociais naquilo que achamos, sei lá, talvez... Interessante. Uma discussão inútil aqui, outra ali de preferência regada a uma cervejinha, é o auge do que possa acontecer. Por mais grave, urgente ou mesmo absurda que seja uma notícia, nada mais parece nos afetar. Tenho a nítida impressão de que vivemos todos embriagados, anestesiados, entorpecidos pelas praticidades e facilidades da vida moderna. Enfeitiçados pelos encantos oferecidos pelo mundo contemporâneo, cegados pela rapidez do “trem bala da vida” que nos nega a visão real do que está acontecendo. Eu até imaginei algumas notícias sendo dadas sem o “filtro da conveniência” com que elas usualmente vem até nós. Por exemplo: “Grupo de pessoas inescrupulosas que se autodenominam representantes do povo brasileiro desviaram milhões da maior estatal do país chegando a quebra-la e alguém precisa pagar a conta, por isso o combustível vai aumentar horrores”. “Energia elétrica sofre aumentos absurdos e abusivos por que o governo não soube administrar uma situação que se desenhou a décadas e um problema que vem se arrastando pelo mesmo tempo”.  “Empresas, quase todas multinacionais, de prestação de serviço, tipo telefonia, tvs a cabo e etc., abusam e roubam seus usuários por que a legislação do país é falha e ineficiente, sem falar que os responsáveis pelo cumprimento da lei são omissos. Isso quando não são os donos das ditas empresas”. “Povo brasileiro vai para o livro dos recordes como nação com maior índice de imbecilidade per capita de todo o mundo. O número beira os cem por cento”. E por aí vai. Mesmo assim, tenho sérias dúvidas se isso faria a diferença em quem escutasse ou lesse as manchetes...
Não existem (ou existe poucas) pessoas de fibra e decididas a encabeçar mudanças verdadeiras por aqui. E sabem porquê? Porque o brasileiro é um povo originalmente acomodado. Todos nós, sem exceção, somos mal acostumados, preguiçosos, folgados, em maior ou menor grau. O Brasil é um paraíso, numa visão geral, se comparado com praticamente qualquer outra nação do planeta. E antes que me apedrejem (como se eu ligasse...), é claro que há as exceções na regra, tipo as favelas do Rio de Janeiro ou mesmo o sofrido povo nordestino. Concordo que lá não deva ser
exatamente um paraíso. Mas não nos esqueçamos que estas pessoas que se encontram nessas situações, muitas vezes deploráveis, são simplesmente resultado desse sistema corrupto e falido que rege nosso país! No geral, o Brasil é sim um elefante branco, um território de terras férteis, clima tropical agradável, não é acometido por desastres naturais, não estamos situados sobre fendas geológicas, temos praias paradisíacas, matas ancestrais... Enfim, teríamos tudo para dar certo. Mas qual seria o nosso problema afinal? Elementar, meus caros Watsons. O mal do Brasil é o brasileiro! Como já disse, somo um povo “largado”. O ser humano no geral hoje está em uma situação de decadência tamanha que chega a deprimir, entretanto, o brasileiro, com seu “jeitinho”, parece conseguir piorar ainda mais esse estado. Com toda esta situação que se encontra o país, tudo explodindo, e parece simplesmente não chegar dentro de nossos lares! Sim, parece que tá só na televisão, que é “só lá em são Paulo”. Corrupção? Isso é coisa lá de Brasília! “A gasolina tá cara, é verdade, mas ainda to conseguindo abastecer o carro, então vamos tomar uma cerveja!” “Porra, como minha luz aumentou! Vou ter que usar menos o ar condicionado. Mas enquanto der pra ligar a tv e a geladeira, pra gelar a cerveja, vamo levando”. “Puta merda, esse dólar ta matando! Desse jeito não dá mais pra ir no Paraguai (por enquanto!) pra comprar tranqueiras importadas. Talvez só minhas cervejinhas de trigo.” Que bosta esse IPVA, cara! Você viu que absurdo? Bom, enquanto der pra tomar uma breja vá lá!” Usei a cerveja, mas podem colocar ai qualquer outra futilidade que o resultado é o mesmo! Engraçado, né... Só que não.  E me incluo nessa turma ai. Não sou diferente. Sou acomodado também. Apenas reclamo mais que a maioria, eu acho. Tanto que estão escasseando os meus ouvintes... E isso tudo não vai mudar tão cedo, tão fácil. Não pacificamente.
É pedir demais, eu sei...


 Eu sempre digo que os europeus e os asiáticos (principalmente Japão e China) levam duas grandes vantagens sobre os povos americanos, em especial os latinos. Mais precisamente os brasileiros: a primeira e a segunda guerra mundiais. Não estou fazendo apologia à guerra aqui nem dizendo que é algo bom, apenas estou sendo realista e citando um conceito universal. Não me refiro a nada mais do que a formação da consciência daqueles povos. O sofrimento nas guerras ficou no DNA daquela gente, e passou de geração para geração, formando assim pessoas com um pensamento mais holístico, menos individualista, que sabem o que é perder tudo, que sabem da importância de reivindicar seus direitos, de lutar pelo que é seu. É claro que hoje há nações na Europa que estão passando por sérios problemas, sejam eles econômicos, sociais, políticos ou de outra ordem qualquer. Sendo eles o velho mundo, têm velhos problemas para lidar, desde a exaustão de seus recursos naturais até problemas demográficos, entre tantos. Mas a questão a que me refiro, repito, é a consciência das pessoas. E não há como negar que hoje elas são, digamos, “mais esclarecidas” pois são mais sofridas. O fato de estarem pagando por seus erros do passado, como acabar com seu meio ambiente, já é outra história. Aqui se faz, aqui se paga. E logicamente que há pessoas ruins e mal intencionadas em qualquer lugar do planeta, não é diferente por lá. Entretanto, há menos leis lá e elas funcionam! Há menos políticos e mais fiscalização! Há corrupção mas também há punição. Enfim, acontecem muitas merdas lá, mas a impunidade não é algo “comum e corrente”, como aqui, e o povo sabe se posicionar. Ao passo que aqui... Bem, aqui a corrupção vem de casa. Desde uma “sky gato” à uma sonegação no imposto de renda. Um “café” pro policial rodoviário ou uma “molhada na mão” do fiscal da vigilância sanitária. Tudo isso é corrupção. Barganhar algo com nosso filho, do tipo “faça isso ou não te dou aquilo”, não deixa de ser corrupção. E tudo isso está no nosso dia-a-dia, no nosso cotidiano, no nosso sangue. Mais uma vez, é claro que há as exceções à regra, mas são e estão se tornando cada vez mais raras, principalmente nessas novas gerações que estão aflorando. E voltando ao início do texto, é aqui que se encaixa a questão sobre as realidades que vivemos X as realidades que apenas conhecemos (e as vezes nem tanto, dependendo de nosso grau de ignorância!). Não sei se conseguem perceber, mas está claro que nada vai mudar enquanto nada acontecer! Parece estúpido dizer isso, mas é a pura realidade. Enquanto a gasolina não custar cinco, ou sete ou dez reais o litro, nos deixando sem condição de abastecer nosso veículo, nada faremos, independentemente de ser ou não justo. Enquanto nossa conta de energia não chegar em trezentos, quinhentos ou mil reais (para aqueles que já não chegou, claro) e
Bem assim!
#SQN
ainda pudermos ligar nossa tv para assistir UFC ou noticiário e enquanto nossa geladeira estiver funcionando (nem vou falar do ar condicionado...), vamos continuar pagando a conta dos outros! Compreendem? Ou talvez, quando implementarem mais alguns impostos, do tipo “imposto sobre passos dados”, ou “imposto sobre minutos vividos”, ou quem sabe” imposto sobre sorrisos” ai quem sabe acordemos. Estamos todos com o FUCK
MODE ON, e nem nos damos conta... Não nos damos conta de que quem vai sofrer as consequências desse “modo foda-se” ligado no automático somos nós mesmos, nossos filhos. E realmente não sei o que é mais frustrante, o fato de sequer sermos capazes de perceber o sofrimento alheio que agride explicitamente nossos olhos ou o fato de não percebermos o nosso próprio sofrimento. E pior, de confundirmos nosso sofrimento condicionado, com nossa “Indulgências” compradas a preços de ouro, com felicidade. Mas, enfim, brasileiro que sou, espero que pelo menos não aumentem o preço da cerveja, que do resto damos jeito. Afinal, “eu to me virando. To fazendo a minha parte”. Não é assim?


Não. Não é assim. Sabem o que nos falta? Nos falta sofrimento. Pois, citando um dito sábio e antigo, aquilo que não aprendemos com amor, aprendemos com a dor. Duvidam? Aguardem e confiem...

20 março 2015

SHITOKAN NO JOJISHI :dai go no uta - hi no kao (verso quinto - as faces do fogo)

Do dicionário: Epopeia é um conjunto de acontecimentos históricos narrados em verso, e podem não representar os acontecimentos com fidelidade, porém apresenta fatos com relevante conceito moral e eventos heroicos, por exemplo, transcorridos durante guerras, ou relativos a fenômenos históricos, lendários ou míticos, e que são representantes de uma determinada cultura.

Narrarei aqui, tal qual vão acontecendo as aventuras, a epopeia de um singular grupo de destemidos aventureiros, viajantes de uma terra mítica muito além do horizonte, o Império oriental de Shitokan, um mundo envolto em mistérios e governados pela honra e pela magia . Terra esta que nasceu da brilhante mente de um amigo muito especial, honorável Adelir-san. Verso a verso, contarei o destino incerto deste bravos guerreiro de olhos puxados, cujo maior intuito é a busca pelo desconhecido...


dai go no uta - hi no kao (verso quinto - as faces do fogo)

Nos braços da Última Gueixa
MOERU!
Cruzando águas desconhecidas
Movidos por ordens devidas
Os homens aguardam sua deixa

Reduzidos à apenas três flamas
Porém com poder aumentado
Rumo à ilha do inesperado
Co’a escolta de um mestre das chamas

E eis que estas chamas vorazes
Que ignora até seus sequazes
E a todos expurga inclemente

Fora lâmina de duplo corte
Trazendo a vitória e a morte
Selando sua sina premente

15 março 2015

REBELDES, DO CONTRA E NEUTROS. A fórmula do caos!

ATENÇÃO! Se você não tem a mente aberta e pré-disposição para mudança, pare aqui e não leia este artigo.



Se até as Forças Armadas estão pedindo ajuda,
acho que eu não sou tão "exagerado" quanto dizem...
Hoje, 15 de março de 2015, participei pela primeira vez de uma manifestação pública. Todos
sabem do que se trata, foi a manifestação realizada em diversas cidades do país com vários intuitos, na verdade. Desde Impeachment à reforma política, haviam pessoas reivindicando vários direitos, mesmo que todas as reivindicações girassem em torno da má administração do governo atual. Eu mesmo estava com um cartaz que um rapaz me entregou, que dizia simplesmente S.O.S  F.F.A.A. Para quem não sabe, essa sigla significa Forças Armadas (a repetição do F e do A é para alegorizar o plural), ou seja, uma pedido de socorro das nossas sucateadas e falidas forças armadas. Como não acredito em coincidências, achei bastante apropriado, para mim, estar com esse cartaz, pois a cada dia que passa não vejo solução para essa balburdia instaurada a não ser com a intervenção militar. Mas esse não é o foco deste post.
Confesso que ando com os nervos a flor da pele ultimamente, e esta situação que estamos atravessando no país (ou, por que não dizer, no mundo) tem me afetado bastante. E, ainda que isso também esteja afetando mais gente, parece que não é o suficiente para afetar ou acordar a maioria das pessoas. Tenho uma opinião sobre isso tudo: o Brasil é muito grande, e por isso nunca vão conseguir administra-lo de forma eficiente! E a prova disso é essa divisão que existe em cada canto do país. Aqui mesmo, em Toledo, no interior do estado, onde por mais que hajam problemas ainda estão distantes da gravidade da situação das grandes metrópoles, podemos ver isso. Hoje percebi que realmente esta situação controversa não tem grandes chances de acabar bem. Não sem coisas tristes acontecerem... Digo isso pois fiquei deveras desapontado (mais ainda...) quando percebi que as pessoas simplesmente estão tão acomodadas em suas zonas de conforto que sequer se dão ao luxo de tirar a bunda do sofá para participar de uma passeata. E não estou falando daqueles que se mantém em “cima do muro” ou mesmo a favor de toda essa zona. Estou falando daqueles que no dia-a-dia também ficam se queixando e falando que precisa fazer alguma coisa e, bla,bla,bla, mas que hoje sequer saíram da frente da televisão, não largaram seus copos de cerveja, seu futebol ou qualquer que fosse seu motivo particular que era mais importante do que a situação crítica da nação. E aqui muitos (ou nem tantos, se levar em conta a “baixa audiência” do blog...) irão me achar exagerado, dramático, etc., etc. Lhes afirmo categoricamente que não sou exagerado. Você talvez é que não tenha tomado tanta pancada na cabeça, por tanto, nem lhe culpo por não alcançar minha loucura percepção.
Brincadeiras à parte, o que quero dizer é o seguinte: há basicamente (eu disse basicamente, e não apenas!) três tipos de pessoas se manifestando sobre tudo isso. Os primeiros são os REBELDES, seres realmente incomodados e inconformados (like me!) que não ficam pensando no que podem perder, mas no quanto tem a ganhar se as coisas mudarem, independentemente de ser proletariado ou empresário bem sucedido (ainda que estes últimos são bem... “discretos”). Há os REBELDES de nascença, aqueles que já vem chutando o pau da barraca desde o ventre da mãe, estão em tudo quanto é manifestação, não levam desaforo pra casa, e há aqueles que são moldados, forjados ou “cagados” no decorrer da vida (eu faço parte deste segundo subgrupo. Tanto que ainda cheiro a estrume...) São do tipo que acham que deve haver mais ação e menos discussão. Depois vem os DO CONTRA (atenção: não confundir um REBELDE com um DO CONTRA. São seres diferentes em origem!). E ai entram desde aqueles que foram à manifestação do dia 13 com suas bandeiras vermelhas (comprados e vendidos, tinha dos dois), até aqueles que pensam (e as vezes dizem) que as coisas “não estão tão ruins como dizem”, e ficam achando argumentos embasados em dados sem pé nem cabeça, de fontes que nem eles mesmos sabem, apenas para defender seus interesses próprios, ou seja, suas vantagens adquiridas nesses últimos doze anos, por exemplo. E por último, mas não menos importantes (#SQN), os NEUTROS. Os sem sal, mornos, mais ou menos, os sem graça, os tanto faz como tanto fez, os “coluna do meio”. São os espécimes exemplares mais comuns dos “50 tons de cinza” do egoísmo humano. Sem ofender! Não falo com intensão pejorativa, mas é preciso exemplificar, afinal, em algum grau, todos somos egoístas. Nessa classe estão aqueles que não se manifestam, não se envolvem, não dizem sim nem não. São praticamente invisíveis! As vezes até penso que estes nem sequer vivem na mesma dimensão que eu! Ou pelo menos não no mesmo país... Preferem observar, como boas ovelhas, o andar da carruagem que se dirige inevitavelmente para o abismo. Desde que haja feno e água à vontade, seguirão cegamente a manada. Preferem pagar mais caro do que encarar uma situação “desconfortável” (leia-se: dão um boi pra não entrar numa briga e uma boiada para sair, caso entrem equivocadamente, claro!) E vez ou outra, os componentes deste tipo acabam cruzando as fronteiras das “classes” e ficam um tempinho na banda dos DO CONTRA, só por uns instantes, tempo suficiente para soltarem alguma pérola sobre “como tudo isso é inútil, como estão perdendo tempo, como só sabem reclamar”, etc., etc. Raramente se vê um NEUTRO indo para o lado dos REBELDES, até por sua natureza “pacífica”. Mas pode acontecer. Antes que me taxem de hipócrita, imbecil, preconceituoso ou outros adjetivos agradáveis como estes, deixo claro que estes últimos, os NEUTROS, eu até respeito. Desde que fiquem com sua postura impecável. Não quer se envolver? Tudo bem, é direito seu. Só não me venha com lições de moral e teorias pseudo socialistas para argumentar a favor de interesses pessoais próprios, falando de uma realidade que eles próprios não vivem! Pode esperar que ai vai dar pau (no bom sentido, claro!)
Eu, Jacson "Hemmas"' Bervian e
Marcos Cavasini. Rebeldes encausados!
E o que hoje me fez entristecer é perceber como é difícil ser um REBELDE. Sim, pois, me surpr
eendi com o povo que disse que ia pra rua e coisa e tal, mas na hora H, não deu coragem. Como já falei, aqueles que se declararam NEUTROS ou DO CONTRA, eu já sabia que não se manifestariam. Entretanto, quando percebi que aqueles que eu pensava terem pelo menos um pouco de REBELDES eram (são...) na verdade uma quarta classe, que eu desconhecia, mas que em verdade acho que sempre existiu... São o que eu chamo de COVARDES. E se fosse para fazer um ranking, eu colocaria essa classe em primeiro lugar tanto em quantidade quanto em nível de periculosidade. São perigosos sim, pois quando você conta com alguém para fazer algo e esse alguém diz que vai fazer e chega na hora e não faz, nem aparece, isso não é apenas frustrante e decepcionante, mas as vezes pode ser vital. Falo isso de cadeira, pois já decepcionei muita gente nessa vida e hoje pago por isso, e parece que agora é a minha vez de ser “largado na mão”. Enfim, esse é o grande mal da nossa nação, um mal que pode ser encontrado em praticamente toda parte do mundo, mas que aqui no Brasil parece que ele tem seu potencial otimizado pelo nosso “jeitinho brasileiro”. Estou falando do egoísmo humano, dessa moléstia de origem psicossomática, que está impregnado na nossa essência e que afeta a todos nós e que está acabando com a humanidade, e nem é aos poucos, é aos safanões mesmo, com velocidade de trem bala. Digo isso pois esta é a explicação mais plausível para a existência de classe de COVARDES que vemos por aí. Em verdade, eu mesmo me sinto um COVARDE em muitos momentos, pois sinto que podia (e devia) estar fazendo mais pelos outros, pelo próximo ou pelo distante. Pelos entes queridos (poucos) ou nem tanto (hum... muitos). Pela sociedade. E quando me ouço (ou “me leio”) dizendo isso, parece tão utópico que me dá mais tristeza ainda...

Talvez não faça diferença em 30 dias.
Mas vamos ver daqui a 10 anos!
Sei que uma manifestação não vai mudar nada. Sei muito bem que um andorinha sozinha não faz verão e sei do que precisamos de verdade que, como já estou cansado de ouvir, é a tão famigerada reforma política e judiciária, e que o impeachment, que apenas trocaria um fantoche por outro, praticamente não faria diferença. Mas enquanto estivermos presos aos nosso temores, acorrentados aos nossos confortáveis grilhões sociais de nossas tão queridas zonas de conforto, nada acontecerá. Como disse um velho amigo, o problema é cultural, e educando nossos filhos corretamente já é um começo. Mas reitero, não é suficiente, a menos que desprezemos completamente a realidade e esqueçamos que nossos filhos estarão inserido nesse mundo caótico. Eu quero um futuro melhor para minhas filhas, não apenas que elas sejam boas cidadãs. A história comprova, bons cidadãos em meio ao caos, são os que sofrem mais (e creio que somos prova disso...), por isso não ficarei apenas no discurso. Não mais. Pois, ao contrário do que pensam alguns, hipocrisia é falar e não fazer. Fazer algo, mesmo que não se obtenha sucesso, não me faz um hipócrita. Agora, esperar que as coisas
melhorem ou insistir que “não está tão ruim”, isso sim é questão de hipocrisia. Não acredito no mal essencial, pelo menos não entre nós mortais. Tudo o que fazemos, falamos e pensamos tem origem na autopreservação, mas infelizmente essa autopreservação atua de maneira diferente em cada um. E a maneira mais comum com que ela se manifesta hoje é esse egoísmo, disfarçado com seus trocentos argumentos, sejam eles intelectuais ou não, sempre “justificáveis”. Enfim, Não quero ofender e nem declarar guerra a ninguém com tudo isso. Mas espero sim mexer com o brio de quem estiver lendo isso aqui. Espero do fundo do coração que as pessoas ao menos reflitam sobre suas condições reais e que percebam que esse verniz social que recobre nossas vidas não passa de mera ilusão. Não existe o EU. Só o NÓS é que faz alguma diferença.

14 fevereiro 2015

Âncoras

Uma a uma se rompem as correntes
"Escrevo. Pois se voasse... Voava."(A.F.E.)
E as âncoras tantas que prendem a nau
Alojam-se ao fundo do flúmen sem vau
Trazendo à tona esfinges prementes

Com a proa elevada à lambiscar o vento
É sensível a estranheza, de tão objetiva
Nesta nave corpórea que vaga à deriva
Querendo alçar-se e ganhar firmamento

Com as últimas âncoras o barco peleja
Pela vã liberdade que tanto almeja
Buscando os ares ao invés do oceano

Sem saber o que o espera do lado de lá
Apenas imagina que pior não será
Do que esse tormento bravio e insano

(Anderson)

01 fevereiro 2015

Podia ser pior...

Por vezes me encontro admirado
Com alguma esquecida lembrança
Daquelas, quando inda criança,
A desfilar bem ali do meu lado

O lastro de um passado abstrato
Me ancora num difuso presente
E percebo o quão isso é premente
Contrapondo os futuros em estrato

Sem outa razão por conforto
Me resta um refúgio absorto
Do “pensamento superior”

O que não passa, em verdade
De uma infeliz iniquidade
Nas lamurias de um perdedor

(Anderson)

11 janeiro 2015

Nota de rodapé

Folheando distraído cada página já transcrita
Nos capítulos estranhos desse tomo inacabado
Que relatam um enredo incompleto e complicado
Me deparo com mil erros de vivência e de escrita
O Show de Truman.
Apenas troque o nome...

Em lacunas encontradas por todo corpo do texto
Alcanço uma personagem que teima em se destacar
Pretenso protagonista de um mundo a se desenhar
Vagueia desnorteado perdido em seu vão contexto

Num dilema literário de razão contraditória
Logo me compadeço do sujeito nessa história
Tão confuso o pobre homem que sequer sabe quem é

Figurante da própria vida, dando se conta ou não
Cativo da mediania, sua sina é só mais um chavão:
Ser na longa história do mundo outra nota de rodapé

(Anderson)

06 janeiro 2015

Alguma coisa...

Alguma coisa se perdeu pelo caminho...
E o que se foi eu nem ao certo sei dizer
Talvez as flores ou quem sabe algum espinho
Uma palavra, um sorriso, um passarinho
Que avoou para bem longe sem eu ver

Alguma coisa me deixou nalgum momento...
Quiçá o sol que eclipsou num dia frio
Talvez apenas um adeus do próprio vento
Num breve aceno qual um tímido lamento
Ou foi a lua que sequer no céu surgiu

Alguma coisa se foi sem me avisar...
Num apartar de algo bom que já calhou
Um sentimento perdido em algum lugar
Nas cicatrizes que não me deixam olvidar
Dos dias quentes de um verão que já passou

Alguma coisa tomou-me os segredos...
Afanando até minhas próprias quimeras
Que logo se foram por entre meus dedos
Como um infante que sem seus brinquedos
Calado lamenta suas ditas severas

(Anderson)