Injustificável. |
Os eventos ocorridos neste
dia 29 de abril último, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, foram
decididamente mais um marco negro na triste, e porquê também não dizer
patética, história política/social da nossa gigantesca nação tupiniquim. Me
refiro especificamente à ação violenta dos soldados da polícia militar do
estado contra os manifestantes que lá se encontravam reivindicando direitos da
classe dos professores servidores do estado. Uma atitude injustificável,
imperdoável e definitivamente equivocada por parte do governador Beto Richa, assim
como suas lamentáveis declarações legitimando seu erro após o ocorrido, sem a
menor sombra de dúvida. Mas... Já há bastante coisa dita nos discursos
inflamados (ou nem tanto) redes sociais à fora. Não vim aqui para falar do fato
em si que, em suma, nada mais é do que a consequência, o reflexo de uma
sociedade débil e alienada que sequer se dá conta do estado de demência em que
se encontra. Venho aqui para discorrer sobre a origem desse mal. Ou, pelo menos
tentar expor como vejo isso tudo.
Observando os
acontecimentos, admito que fiquei abismado com alguns fatos marcantes em meio
ao caos instaurado que gerou este incidente. Seja o fato de termos
manifestantes apanhando como se fossem bandidos (isso pra quem concorda que
bandido tem que apanhar. Eu concordo), seja por ver policiais (nem todos,
claro, pois tivemos alguns com atitude honrosa lá também) agindo tal qual robôs
com senso de obediência maior do que o senso de moral ou mesmo sobre a iminente
falência da máquina pública (aguardem pra ver...). E tudo isso envolto nessa maçaroca
de injustiça, impunidade e descaso por parte tanto de governantes quanto de
governados. Entretanto, o que me deixou realmente estarrecido, perplexo,
apreensivo, perturbado e indignado de verdade, é ter me dado conta do grau de
monstruosidade que alcançou o ego humano na nossa tão famigerada sociedade
contemporânea. Tenho acompanhado, como a maioria, estes acontecimentos via
telejornais e mídias sociais, e fiquei chocado ao perceber (ao ver na verdade
ao vivo e a cores, pois em teoria já sabia disso faz tempo) o quanto os nossos interesses
pessoais são infinitamente mais importantes do que o bem estar comum da
sociedade. Trocando em miúdos, é o tal do “se
me afeta diretamente, eu me importo. Se não me afeta, foda-se o mundo”. E
isso ficou bem claro ao observar o grau de solidariedade gerado por estes
tristes acontecimentos que citei no início do texto, em detrimento, por
exemplo, do movimento dos caminhoneiros que houve e ainda há brasil à fora. Vou
exemplificar para ficar mais claro.
Lembro–me perfeitamente que
algumas semanas atrás, quando a greve dos caminhoneiros estourou, com vários
bloqueios nas rodovias da nossa região inclusive, o quanto algumas (várias!) pessoas,
após alguns dias de paralisação, se mostravam irritadas e indignadas com
aqueles manifestantes (vejam bem: indignadas COM eles, e não POR eles!),
demonstrando sua indignação principalmente nas redes sociais, vitrine desses
discursos “haters” (clique na palavra para ver definição) tão comuns hoje em
dia nas mídias sociais. Tinha de tudo: era uns
dizendo que o segmento era desorganizado, outros dizendo que eram baderneiros,
aqueles que defendiam que os caminhoneiros estavam “chorando
And tha's it. |
de barriga cheia”, outros tantos com aquele papo de “não sabem gerir seus recursos”, enfim, de
tudo um pouco. E haviam também aqueles que não estavam nem ai mesmo, “tocando um foda-se” pra tudo. E confesso
que tenho mais respeito por estes últimos do que pelo restante, desde que se
mantenham neutros até o fim (o que duvido que consigam). O fato é que apenas
quem tinha, de alguma maneira, ligação com o segmento (transporte) realmente
entende o sofrimento e o desespero desta classe que protestava à sua maneira. E
ainda assim, dentre estes ditos “entendidos
do assunto”, nem todos apoiavam ou pelo menos entendiam o que os
caminhoneiros estavam (estão!) reivindicando, que nada mais é do que o direito
à um trabalho digno. Ideia esta que, por sinal, não é muito diferente,
analisando de maneira sucinta, do que os professores do estado do Paraná
estariam pedindo em suas manifestações. Concordamos nisso, certo? Pois bem. O
que quero destacar aqui, é o fato que me dei conta esta semana, observando
novamente as manifestações de apoio (virtuais, via redes sociais mesmo, para
variar...) das pessoas em relação ao movimento do professores e mais
especificamente em virtude do conflito do dia 29. Houve uma comoção imensa e
generalizada por parte da sociedade como um todo, gerando um sentimento
solidário que normalmente se vê em ocasiões em que desastres naturais e coisas
do gênero acontecem. Em meio à estas declarações de apoio e solidariedade, de
caráter hater ou não, acabei notando
um fato bem interessante, (que na verdade foi o gatilho para este post).
Percebi que muitas daquelas pessoas que lá atrás, quando da manifestação dos
caminhoneiros, “desaprovavam”, criticavam ou mesmo não se manifestavam (que que
eu falei sobre respeitar os que se mantém neutro? Há!) estão se posicionando
favoráveis aos professores agora, declarando sua indignação solidária e tudo
mais (tudo virtualmente, claro. Ir lá carregar faixa e tomar porrada com os
coitados ninguém quer, né? Como somos hipócritas...). Nada contra o apoio
“incondicional” (#SQN) desse pessoal. Mas... Qual a diferença entre uma
manifestação e outra? Acaso a causa dos professores é mais nobre do que a dos
caminhoneiros? Ou seria por preconceito mesmo, por se tratar de uma classe (a
dos caminhoneiros) formada em sua grande maioria por pessoas de pouca
representatividade, sem muita instrução e com reputação (erroneamente!)
duvidosa? Ou quem sabe pelo fato de os professores terem um sindicato (hug! Me
dá asco só de lembrar em quem um certo sindicato "criou" aqui no Brasil...) mais oportunista organizado do que
o dos caminhoneiros eles merecem mais crédito? (Sim, pois se alguém ainda tem
dúvida de que esse movimento só “funciona”
em função do sindicato que está por trás... por favor, acordem!) Pois saibam
que nada disso responde, de maneira satisfatória e por completo, a questão. O
motivo pelo qual simpatizamos ou não com uma ou com outra manifestação, meus
amigos e amigas, é bem simples de se entender. É por puro INTERESSE PESSOAL. Isso
mesmo. Egoísmo, falta de senso de empatia, total descaso para com o nosso
próximo. Independentemente das instituições, dos movimentos, dos sindicatos,
somos todos movidos pelo nosso gordo e pomposo ego. Mas calma, antes do vosso “não é bem assim”, eu explico. Não é uma
mera crítica que estou “destilando”
aqui, tem fundamento o que lhes coloco, e vocês logo entenderão o porquê.
A raiz de todo mal no ser
humano, seja ele brasileiro, inglês, alemão, africano, chinês ou de qualquer
outra raça, nacionalidade, cor, credo ou orientação sexual (agora tem que ficar
colocando essa distinção também...), é sempre a mesma: o egoísmo. Existe uma
velha história/teoria/lenda/causo/ditado que diz não existir o “mal em essência”, que todos estamos
apenas tentando fazer quilo que é bom... para nós! E que nesse processo, muitas
(e muitas, e muitas, e muitas... ad aeternum!) vezes acabamos prejudicando
outrem em virtude de querermos alcançar/obter/atingir algo em favor próprio. Eu
concordo (parcialmente. Existe o mal puro sim e ele é sutil e sorrateiro) e
partilho desse entendimento, e é com base nele que faço estas afirmações.
Quando alguém que antes se dizia incomodado ou prejudicado ou simplesmente
contra a greve dos motoristas e agora se diz apoiador ou meramente “simpatizante” da causa dos professores,
nada mais está fazendo do que adotando um posicionamento que lhe trará mais
vantagens ou lhe garantirá menos desvantagens. E isso é instintivo, caso não
tenhamos controle total de nossas vontades, atitudes e ações. Cerca de 99,999 %
de das pessoas só... E por si só, o conhecimento deste dado já seria mais que
suficiente para nos auto justificarmos e dar continuidade ao nosso “equívoco existencial”. E há um
atenuante/agravante nessa situação. Do ponto de vista “marqueteiro”, os
professores levam uma larga vantagem sobre os caminhoneiros com relação à gerar
empatia junto à população, que é justamente, como já citei, a questão da
reputação que cada classe trás consigo. Enquanto uns são os “mestres do conhecimento” (os profes) os
outros, geralmente, levam a equivocada fama de “malandros da estrada” (os motoras) e definitivamente isso faz a
diferença na hora de arrebatar simpatizantes para suas causas. E por fim, mas
não menos decepcionante, tem a mídia, que acaba reforçando tudo isso, quando
deixa de expor uma situação na totalidade de seus fatos (como fez com a greve
dos caminhoneiros), e apresenta somente o que lhes convém, da forma que melhor
lhes sirva. Por outro lado, a “cruzada”
dos professores do estado não pode reclamar de falta de ibope... Mas não vou
entrar no mérito, foi mesmo só para ilustrar.
Calma... Respira, respira... Agora, pode continuar! |
ATENÇÃO, antes de continuar
entenda uma coisa: se há algum hater
que inadvertidamente entrou aqui e está lendo estas linhas e se “inflamando”,
antes de “explodir” (é assim que eles fazem quando leem sobre algo que lhes
deixa com raiva. Eu sei bem!) atenha-se ao fato de que estou fazendo uma
colocação pontual e não simplesmente nivelando por baixo! Não são todos as pessoas
que compartilham das atitudes que estou descrevendo (mas a grande maioria, com
certeza...). Assim como há professores dignos e comprometidos encabeçando sua
causa de maneira séria, também há aqueles que nem sabem pelo que estão lutando.
E com caminhoneiros não é diferente. Há os guerreiros do asfalto e também há os
vagabundos itinerantes. Capisce? Nem pra um lado, nem pro outro...
Continuando: O que percebo
quando vejo algumas pessoas compartilhando posts em apoio à manifestação dos
professores e que torciam o nariz pros caminhoneiros, é gente que se
identificou com a causa (dos professores) pelo simples fato, muitas vezes, de
não estarem sendo prejudicadas. Outras vezes por partilharem de uma mesma
condição empregatícia (órgãos públicos e tal) e sentirem-se “ameaçadas por tabela”
(aqui se enquadraria, num exemplo para melhor ilustrar, aquela questão da
terceirização das chamadas atividades fim, onde vejo muito servidor público
contra o projeto por medo de ter sua condição como servidor prejudicada caso
haja terceirização na administração pública, por exemplo. Mas não vou ir além
neste assunto pra não gerar mais polêmica). Da mesma forma, mas no
contra fluxo, estes mesmos cidadãos se diziam contra a greve dos caminhoneiros
pelo simples fato de se sentirem prejudicados! (Não estou inventando esse dado
não, e nem foi apenas por observação que percebi. Realmente tive a oportunidade
de conversar com várias pessoas que tinham essa visão) E/ou até mesmo por não
estarem ganhando nada com isso (os “falsos
neutros”). Lembrem-se que faltou combustível, as rodovias ficaram lentas e
até interditadas em alguns lugares, transportadoras atrasaram suas entregas em
virtude dos bloqueios, aconteceram acidentes... Enfim, houveram vários
contratempos que “afetaram” o dia a
dia da população. Teve um amigo que até
fez uma piada na época, demonstrando seu “desconforto”,
quando eu disse que ele estava sendo muito sarcástico, e este retrucou dizendo
que não, que seu “estoque de sarcasmo
havia acabado e a entrega do novo carregamento estava presa em algum bloqueio
de caminhão” ... Tive que rir, já que é amigo...(rsrsrsrs). Piadas sem
graça de amigos à parte, é exatamente isso o que acontece. Somos movidos pelos nossos
interesses pessoais. Se tenho vantagem, “to
dentro”. Se não tenho, “to fora”.
Se me convém, apoio. Se me incomoda, sou contra. E dane-se a necessidade alheia!
Foda-se o próximo! “Ao invés de ficarem
reclamando, por que não se prepararam e fizeram concursos”? (Tive que
ouvir/ler essa também...) “Não é tão ruim
assim! Podia ser pior! Podia ser comigo!” E por aí vai... E olha que aqueles
que têm filhos em idade escolar, no ensino médio, também está se vendo muitas
vezes em apuros por não ter com quem deixar as crianças nestes dias de greve,
mesmo assim existe o apoio solidário aos professores. Mas, talvez, estas
pessoas que se incomodaram com a greve dos caminhoneiros tenham ficado sem combustível
na época ou deixaram de cumprir algum prazo por que a transportadora atrasou a
entrega de uma mercadoria. Ou quem sabe tiveram que enfrentar filas e
congestionamentos (nossa, que coisa “inaceitável”
!!) e se atrasaram algumas vezes no trabalho. E é bem provável que não tenham
filhos na escola, ou seriam contra esta greve dos professores também. Gente...
Não há lado certo ou errado quando a luta é justa. Há apenas pontos de vista
diferentes sobre um mesmo fato ou aspecto. Se temos tanta dificuldade em
perceber isso, se não conseguimos sequer nos colocarmos no lugar de nosso
próximo, se estamos tão mortos por dentro que somos incapazes de nos compadecer
do sofrimento alheio, é sinal que
Auto explicativo. |
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