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30 novembro 2013

Prece

A guerra não é apenas um conceito. Tampouco um mal a se temer. A guerra é um princípio universal e imutável, tão essencial à existência quanto a própria necessidade de seguir a diante. Talvez mais importante até que sua contra-parte, a paz. O impulso mesmo da vida, o combustível que nos faz lutar, temer, planejar, indagar, prosseguir, tudo isso está intrínseco nesse princípio singular. E seus preceitos estão profundamente arraigados em nosso interior, mesmo que não nos demos conta. Desde o constante batalhar de antíteses que nos prende ao dualismo da existência, até as mais épicas batalhas entre o bem e o mal, outros dois princípios igualmente supremos. Por isso,  não raramente,  me pego a refletir que em tempos de paz, a humanidade pode até prosperar, como corrobora a história. Mas também se torna fraca, fútil e vulnerável. E em tempos de guerra é quando o nos tornamos fortes e resistentes. Profundos. Pelo menos aqueles que restam... A aflição nos flagela, isso é certo. Até mesmo em nossas guerras internas. Mas é ai que procuro me apegar a uma frase de Carlos Drummond de Andrade que diz o seguinte: a DOR é inevitável,  o SOFRIMENTO é opcional. Quem tiver entendimento que entenda.



Prece

Ares para os gregos, Marte para os romanos.
Nos dois casos o mesmo personagem:
O Deus da Guerra
Dos louros da justa afrontada
Ao espólio de infame vitória
Não há espada na história
Que à ti não fosse consagrada

Movidos por ânsias dementes
Ou pela própria honra coagidos
Exércitos de homens perdidos
Por causas e idéias doentes

E confiando à paz ao destino
Negamos seu caráter divino
Que à todos afeta em igual

Pois queiramos ou não aceitar
Simplesmente não há como negar
Que a guerra é um princípio imortal

(Anderson)

27 novembro 2013

Noturno

Esta noite novamente
Demorei à adormecer
Contei flores e carneiros
Emergido em travesseiros
Pra não ver o sol nascer

"Em quanto você dorme, a noite vigia..."

Li mil livros de estórias
E outros mil pus-me a grafar
Embalei cantigas brandas
Fiz canções, dancei cirandas
Sem nem mesmo levantar

Passeei por terras pardas
Nas asas de um beija-flor
Apostando com o vento
Por parceiro o pensamento
Sem limites, sem temor



Encantei-me com as estrelas
No avesso ao meio-dia
Pontos alvos de um sem fim
Como que a piscar pra mim
E feito um bobo eu sorria

Entre plumas e auréolas
Declamei versos celestes
E em canções além do ouvir
Disse um pai,sempre a sorrir,
"Tua vida é o que fizeste"

Cruzei mares de aventuras
Sorria! Você está sendo "ninado" ...
Quebrei ondas de alegria
Contemplando a majestade
Do oceano da saudade
Que no peito eu trazia

Palavras tolas em tom suave
Às rochas fui segredar
E quão grande minha surpresa
Em assistir com mui presteza
Um rochedo pôr-se a chorar

Num rufar de alvas plumas
Viajei o mundo a fora
Vi florestas e castelos
Um sem fim de locais belos
Aos quais volto, sem demora

Cavalguei por entre nuvens
Viajei com o trovão
Provei novos sentimentos
Confusões e entendimentos
Qual relâmpago em clarão


Artêmis
E o sono que não chegava
Me instigava a fantasia
Eis que então, já alvorecendo
Qual farol ao longe ardendo
Um sorriso me contagia

Era a própria dona da noite
Sorrindo-me gentilmente
Em processos de ir embora
Predizendo o vir  d'aurora
Acenando a toda gente

E minh'alma tão inquieta
Se acalma num sussurrar
Com a ternura irradiada
Por Artêmis, a prateada
La no céu a me ninar


E nesta noite, quase dia
Adormeço a suspirar
Em meus sonhos sem maldades
Ainda lembro com saudades
Do riso argênteo a me encantar...

(Anderson)

22 novembro 2013

As vezes...

Esta poesia é muito especial para mim, pois foi a minha primeira, isso há muitos anos atrás, no túnel do tempo... E esta semana, recebi uma menção honrosa por ela, ao participar do II Prêmio Licinho Campos de Poesias de Amor, um concurso online promovido pelo Grupo de Poetas Livres, de Santa Catarina. Em verdade não recebi nada, já que foi virtual o negócio (rsrsrs), mas meu nome, assim como a poesia, estão la. Haviam algumas normas à serem cumpridas para poder participar, uma delas era a quantidade limitada de versos por poesia, deveriam ser curtas. A minha ultrapassava esse limite. Mesmo assim me inscrevi com ela. E foi tudo bem, afinal se ainda a julgaram e até recebi uma menção honrosa, é porque deve ter agradado. Quem sabe se estivesse dentro dos padrões exigidos... Enfim, de qualquer modo o tema "amor" não é exatamente o meu forte, creio. Todavia, fico imensamente grato pelo reconhecimento.


As vezes...

As vezes quero te tocar. Sempre quero...
Mas não posso, não me é permitido.
Pois tocar-te é como uma dádiva divina,
Capaz de levar ao céu aquele que o fizer.
Não mereço o céu...

As vezes quero te abraçar. Sempre quero...
Mas não posso,  não me é permitido.
Pois abraçar-te seria como voar,
Cruzar o firmamento com a sutileza e imponência de uma nuvem.
Não sei voar...


As vezes quero te falar de amor. Sempre quero...
Mas não posso, não me é permitido.
Pois falar-te de amor é como lutar na guerra,
Com coragem e ousadia, sem medo do desconhecido.
Não sou guerreiro...



As vezes quero te beijar.Sempre quero...
Mas não posso, não me é permitido.
Pois beijar-te é prova real, final,
De quem for o  senhor do teu coração.
Não sou senhor... Sou escravo...


As vezes quero te olhar. Sempre quero...
Mas... olhar-te eu posso, isso me é permitido.
Pois olhar-te é como uma prova, uma pena,
Que testa minha força, minha paciência, meu sofrimento.
Mas sou forte...
...As vezes.

(Anderson)

20 novembro 2013

Infirmitas Animae

Hoje me faz companhia a consternação
Ver ou não ver, eis a questão...
Angústia de espírito que o coração esfria
Inércia de ânimo, verdugo da alegria
E por certo nem sei sua real explicação

Talvez languidez pela doença humana
Que na cegueira da alma tem primazia
Cultuando sua deusa, a hipocrisia
Em cultos dementes por toda a semana

Sem nos dar conta, sedados que estamos
Apenas seguimos, dormidos andamos
Destinos sonhados em sonhos simplórios

E nem mesmo de longe sequer suspeitamos
Que essa vida ilusória que tanto amamos
É a própria doença desses dias inglórios

(Anderson)

18 novembro 2013

O Credo Samurai

Os preceitos descritos abaixo são datados do século XIV. Quem primeiramente me apresentou os mesmos foi um grande amigo, o qual já citei anteriormente aqui no blog, Adelir Baldin, que sempre se interessou pela cultura oriental. Sabe-se apenas que foram escritos por um guerreiro samurai, de identidade desconhecida. Seus ensinamentos, em uma análise contemporânea superficial, parecem deslocados, ao menos ultrapassados para os dias atuais. Até para os padrões orientais. No entanto, defendo que são mais  necessários do que nunca. Para todos os efeitos, o real recado deste poema é a importância do desapego material, e isto jamais se tornará obsoleto.
"Para se chagar à fonte, é preciso
nadar contra corrente."


Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poderes mágicos, faço personalidade meus poderes mágicos.
Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.
Eu não tenho visão, faço da luz do trovão minha visão.
Eu não tenho  audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua. Faço da prontidão minha língua.
Eu não tenho leis, faço da auto-defesa minha lei.
Eu não tenho estratégias. Faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia.
"As palavras são anões
Os exemplos são gigantes."
Eu não tenho projetos, faço do apego às oportunidades meus projetos.
Eu não tenho princípios, faço da adaptação à todas as circunstâncias meu princípio.
Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.
Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos.
Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga.
Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu único inimigo.
Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura.
Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo.
Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.