Ho, ho, ho! |
Daí minha
filha Isabela, sete aninhos, chega pra mim e fala: papai (sim, ela ainda me chama de papai, não to inventando. Espero
poder dizer isso daqui 10 anos...) por
que você não compra um desses vídeo games que controla com o corpo? E eu: Como filha? E ela: desses que a gente pula na frente da tv! (Então entendi que ela
estava falando do X-Box Kinect, Nintendo Wii ou Playstation Move) Pensei um
pouco e respondi: Olha filha, o papai até
queria um desses (adoro games!) mas
agora não vai dar, eles custam caro e não temos condições no momento. Mas um
dia vou comprar e vamos jogar juntos. Confesso que fiquei orgulhoso da
minha resposta “rápida e rasteira”, isso até ela me olhar com os olhinhos
brilhando, pois teve uma grande ideia: Papai,
pede pro Papai Noel te dar de Natal! Ai tive que pensar melhor no que falar, já que
ela me pegou de surpresa. Mas, não me fiz de rogado e respondi: É que o Papai Noel só dá presente pra
criança, filha. Eu já to meio velho pra ganhar presente dele. Ufa! Me safei
dessa, pensei comigo mesmo. Só que não. Ela, de imediato, respondeu: Já sei, então eu vou pedir um vídeo game
desses pro Papai Noel, ai ta resolvido, a gente divide! E agora, zé, falar
o que?
Isso
aconteceu comigo essa semana, enquanto aguardávamos no carro minha esposa que
estava no mercado. Parece meio bobo e sem graça contando asssim, eu sei, e sem
muita noção ficar falando disso assim. Porém é mais profundo que aparenta,
acreditem. Não faz muito, acho que uns dois ou três meses atrás, nós estávamos
conversamos sobre essas coisas de Papai Noel, eu e a Bela. Ela me disse assim: Eu sei que o Papai Noel não existe, que é
você quem compra os presentes e deixa embaixo da árvore. A primeira coisa
que pensei foi pedir quem havia dito isso à ela, mas logo imaginei que fora
algum coleguinha da escola, e achei melhor não perguntar e tirar o foco da
descrença. Olhei pra ela com um ar de “esperteza”, e disse com um sorriso de
canto de boca, tentando disfarçar minha surpresa e passar a maior segurança
possível do que iria dizer: Ah, é? Mas quem te falou que é o Papai Noel
que compra os presentes? Ele só entrega. Claro que quem compram são os pais, ai
o Papai Noel vai e entrega para as crianças que se comportaram. Ele entra “magicamente”
nas casas, vai de fininho no quarto das crianças pra confirmar se ta na casa
certa e depois deixa o presente. Ela sorriu, olhou de lado como se
estivesse pensativa. Não pensei que ia colar. Mas colou. Simplesmente me
respondeu: ah, então tá. Ou seja, já tá dando
trabalho fazer com que elas mantenham as inocentes fantasias de criança. E nem
me venham com essa de que “nessa idade já não tem mais inocência pois as
crianças de hoje em dia são mais precoces” e bla, bla,bla. Claro que são mais
precoces. Nem tem como ser diferente, afinal com toda a tecnologia disponível,
a quantidade de informação a que elas têm acesso hoje antes dos 10 anos, muitas
vezes é mais do que um adulto teria em todo a sua vida, a quinze ou vinte anos
atrás. Entretanto, dizer que em virtude disso elas “perdem” a inocência
prematuramente é o mesmo que dizer que a culpa de os legumes e verduras que
ingerimos hoje terem agrotóxico é dos próprios vegetais! Os limites, os
contornos, os horizontes (pelo menos os primeiros) quem precisa definir, aos
filhos, somos nós, os pais. E estes devem ser claros, por uma simples razão:
serão formadores da própria base existencial deles. Isso no tocante a
influência que o “meio” exerce sobre os indivíduos, logicamente. Me refiro ao
ambiente em que são criados, tipo de educação, diretrizes primárias. Nem vou
citar fatores metafísicos aqui para não parecer mais “lesado” do que de
costume. E na verdade to chovendo no molhado, pois já falei disso em um post (link) lá atrás.
Bad-poison-mad vegetables! aham... claro que sim... |
Não sou
adepto de religião alguma atualmente, ainda que o cristianismo faça todo
sentido para mim, mas vou utilizar uma referência da bíblia aqui que possui
muita sabedoria em minha modesta opinião e da qual gosto bastante: Coríntios
6:12 “Todas as coisas me são lícitas,
porém nem todas me convêm”. (Pra quem torce o nariz quando lê ou ouve uma
citação bíblica, me perdoe, mas só lamento. Se realmente acham que tudo se
resume ao empirismo e se limita a repudiar tudo que não seja “palpável”, embasado
por suas “profundas experiências internéticas” ou por seus distorcidos ensaios
existenciais, apenas porque as ideias humanas se degeneram, como aconteceu com
a bíblia em suas infindáveis traduções e adaptações, realmente esses sequer
sabem porque estão “aqui”. Ainda que achem que saibam. Não que eu saiba, claro...)
Pois bem, essa máxima resume bem o que penso sobre o atual estado da sociedade
contemporânea mundial. Ou seja: nós todos. Tudo é permitido, tudo vale. Nada é
proibido, nada é errado. Tudo é mera questão de ponto de vista. E assim, pouco
a pouco, lentamente (ou nem tanto!) as ideias vão apodrecendo. Os ideais vão se
esvaindo. Os princípios, os valores vão se esvanecendo e, pior, vão sendo
transmutados. Substituídos, eu diria. Tudo o que era tido como “certo” vai se
tornando passivo de dúvida. O que era convencionado como “errado”, vai se
tonando comum... E logo, normal. Já falei aqui, em outro post, sobre a
diferença entre comum e normal, por isso não vou me ater a isso novamente.
Enfim, toda essa questão é relativa ao nosso “discernimento”. Em verdade, esta
é a pecinha da máquina que “estraga” primeiro, graças a enxurrada de opiniões,
versões, discussões e todos os “ões” que nossa infinitamente diversificada era
nos proporcionou e continua a proporcionar. Perdemos nossa capacidade
perceptiva acerca de tudo o que nos rodea. Chegamos em um grau de
“anestesiamento” tão profundo que parece que nada mais nos choca. Nada mais
mexe com nossas entranhas. Pelo menos não o bastante. Em resumo, isso tudo tem
a ver com a primeira parte do supracitado provérbio bíblico: tudo nos é lícito. Contudo, o que
realmente quero chamar atenção aqui é para a segunda parte dele: nem tudo nos convém. Esse, meus caros,
é meu “mata-burros” de uma vida toda.
Desde que
minhas filhas nasceram, procuro lhes dar uma educação embasada em princípios
sólidos e perenes. É claro que muitas e muitas vezes me questiono se não estou
sendo por demais hipócrita tentando dar à elas algo que, em verdade, tenho
dificuldades em vivenciar na íntegra. Entretanto, isso não vem ao caso, afinal,
tenho uma “vasta experiência” em fazer presepada, e, se não posso lhes guiar
por um caminho ideal, posso ao menos lhes indicar um caminho menos sofrível...
que o meu, pelo menos. Não quero que sigam os meus passos. Quero que vão além
de onde eu fui. Todavia, preciso chamar a atenção para o fato de como é trabalhoso
manter essa filosofia, essa maneira de educar nos dias de hoje. E não estou
falando em mandar pro convento ou proibir televisão, proibir de ouvir tal e
qual música (ainda que funk, axé, sertanejos universitários e afins eu “não
recomende” para elas...) ou mesmo qualquer coisa do gênero “nazista”. É muito
mais sutil que isso. Estou falando de uma educação com princípios bem fácil de
entender: roubar é errado, dividir é certo. Ter preguiça é errado, ser
diligente é certo. Mentir é errado, falar a verdade é certo. Simples assim (Com
certeza eu gostaria de lhes falar da ordem natural das coisas, dizer para elas
também que dois homens formam uma “dupla”, e não um “casal”, mas ai já estaria
incentivando o preconceito, e seria como antecipar julgamentos que elas farão por
si só quando seu tempo chegar). E dentro dessa simplicidade, incluo coisas
triviais, tipo explicar para minha filha mais velha (sete anos) que ela não
precisa de uma conta no facebook (depois não sabem “com quem” seu filho
aprendeu o que é maconha ou teve sua primeira experiência pornográfica... Isso
se não acabarem achando que isso é “normal”) ou mesmo que minha outra filha (de
cinco anos) não precisa de um celular, pois ela não vai estar em lugar
algum
que eu ou sua mãe não estejamos junto com ela, e que o celular serve para que
as pessoas que estão longe possam falar conosco, e vice versa (ok, na escola
não conta...La nem pode levar celular mesmo.) Ou que tem alguns desenhos
animados, por exemplo, que todos os amiguinhos assistem, e que até possuem
classificação livre, mas que o papai chato (i’ts me!) diz que não pode por que
não são legais (sem falar em todo o restante da programação de tv, aberta ou
não, de telejornal à filmes e novelas, que sinceramente, não sei como tem pais
que dormem à noite após deixar os filhos assistirem. Juntos!) Pois bem. Claro
que eles podem aprender pornografia na escola, ou na rua, e não só na internet!
Claro que um celular pode não trazer problemas maiores! Claro que música, seja
boa ou ruim, se ouve em qualquer lugar, não só em casa! Claro que desenhos são
só desenhos, e, afinal, todo mundo assistiu quando era criança e quase
ninguém virou psicopata. Mas...Tudo isso... É necessário? É realmente
necessário? Onde está nosso discernimento? Nos
convém? Ah, por que todos os amiguinhos
dele têm, tadinho! É mesmo? Então vai ver como é o resto da vida dos amiguinhos
também, não só o que ele já ostenta nessa idade! Ah, porque eu conheço trocentas crianças que viram/veem (like me...) desenhos violentos e ainda assim não
aconteceu nada... Será mesmo? Quanto da psique afetada das pessoas nós
podemos identificar, divisar, conhecer, saber, ver? (Médiuns e paranormais não
vale opinar aqui!) Ah, por que toda música
é arte! Concordo, se estivermos falando de Beethoven, Bach, Vivaldi... (Todo
resto, inclusive o rock, de que gosto, é deveras discutível, em maior ou menor
grau) Ah, porque todo mundo assiste tv! Claro.
Pula no poço também! Até os especialistas dizem que tv demais faz mal! Gente... A inocência é a maior das
virtudes que uma criança, enquanto criança, pode possuir. Ela é como se fosse o
invólucro de todas as outras virtudes, a “virtude mor”. E como tal, sua
importância é imensurável. É como se fosse o próprio leite materno que os
médicos todos indicam que as mães deem aos filhos o máximo de tempo possível. E
a única maneira de mantermos essa inocência, o máximo que pudermos, é,
primordialmente, não “violentando” nossas crianças. Calma, que eu vou explicar!
Quando não nos damos ao trabalho de filtrar tudo (que for possível!) a que elas
são expostas, quando deixamos que pulem etapas, quando achamos que tudo é
normal, que “faz parte do crescimento” só porque a sociedade dita, sem nos
importarmos em ponderar se isso é realmente necessário ou sutilmente danoso,
estamos, em verdade, violentando nossas crianças. Estamos, perdoem-me a
expressão, estuprando-as silenciosamente. E me faço redundante na expressão
pois já disse isso em outro post, estamos lhes roubando a própria infância.
Tirando-lhes a armadura astral (uia...) que é sua inocência. E sabe o que é
pior? O indivíduo nem se dá conta, porquê “sabe de nada, inocente...” (ok.
Admito. Trocadilho podre esse.) E o resultado disso não é imediato, não! É a
médio, longo prazo. Vai refletir lá na frente, quando forem adolescentes,
adultos, lá naquela hora em que, nalgum momento íntimo, lá no fundo da nossa
mente, surge discretamente aquele fatídico pensamento: onde foi que eu errei?!
Mas ai... Será tarde. E é assim. Simples assim.
Certo e errado: questão de ponto de vista ou de entendimento mesmo??? |
Bom, agora
vocês podem entender (espero...) um pouco do porquê a minha preocupação com a
Bela acreditar no Papai Noel. Não é frescura, ou coisas da cabeça de um cara
com a mente turva (tá... talvez um pouco). Faço isso como forma de cultivar sua
fantasia, preservar sua inocência o máximo possível. Fazemos uma oração juntos
sempre antes de elas irem dormir, eu, a Bela, a Bia e a minha esposa Clê. Ai
alguém se levanta e diz: Ah, mas você nem
religião tem! Hipócrita. Verdade, não tenho. Mas o que estou passando para elas não tem a ver com religião, e
sim noções de respeito e veneração, algo que considero de suma importância na
formação do caráter de uma pessoa. Também conto estórias para elas, quase todas
as noites. E as preferidas delas, principalmente da mais velha, são as de
aventura, como ela mesmo pede. E inventadas na hora! Sem livro, papai! – me pede ela. As que contém fadas, dragões,
princesas, castelos, florestas encantadas. As mais fantásticas possíveis. E
este é o maior presente que posso lhes dar: a inocência. Claro que um dia elas
vão crescer. Já estão
crescendo... A inocência, naturalmente, vai se
desfazendo. Quiçá se transformando. A fase das perguntas “level hard” já
começou, na verdade! E logo, logo, sem que eu perceba talvez, não terei mais
menininhas em casa... Mas até lá, farei o possível para que elas tenham uma
infância como deve ser, coisa de criança! Não vou ficar antecipando etapas,
querendo explicar as complicações do mundo como homofobia ou se é certo ou não
usar drogas. Tudo ao seu tempo. Vai chegar a hora que terei que explicar coisa
mais difíceis do que “como os gigantes tem um reino acima das nuvens” ou
“porquê a armadura do cavaleiro branco não é de outra cor” (verídicas essas!),
ai sim, terei que estar preparado. Preparado até para coisas do tipo que um
amigo me disse certa vez em tom de chacota: e
se tua filha aparecer em casa, com dezesseis, dezessete anos, com uma
“namorada” ao invés de um namorado? Que que você vai fazer? - Nada. Respondi. Ai já é uma escolha dela. Como pai, daí em diante, só poderei apoia-la
NO QUE FOR PRECISO. E entenda quem tiver entendimento.
Deep... |
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