"... O que vou fazer com essa tal liberdade..." (credo, nunca pensei que iria usar letra de pagode...) |
Vivemos em
um tempo onde a locução "liberdade de expressão", de tão batida e mal
aplicada, já nem tem mais sentido real. Até por que, não há mais motivo para tal, uma vez que vivemos em um mundo
livre das ditaduras e censuras de outrora. Hoje o que temos visto por ai é uma
liberdade de ação, de pensamento, de posicionamento (seja qual for o cunho
deste posicionamento, do político à opção sexual), ou seja, está mais para
"liberdade total". Essa
poderia muito bem tratar-se de uma premissa à ser defendida por algum
antropólogo modernista. Mas eu pergunto: será? Será essa liberdade
contemporânea, livre de qualquer limite, preceitos ou "preconceitos",
algo positivo de verdade? Será real?
Até onde se pode confiar nessa promessa, e digo mais, feita por quem? Seria
esta uma simples etapa da evolução do pensamento humano? Teria alguma
substância palpável? Algum conteúdo
plausível? Todos dizemos o que pensamos, porquê é nosso direito. Fazemos o que
queremos, por que alguma lei nos ampara. Vamos aonde quisermos, pois já não
existem fronteiras que nos detenham ( à não ser alguma guarda fronteiriça de
algum país extremista qualquer. Esses não deixam passar! ), sejam elas virtuais ou geográficas, nada está livre de nosso alcance ou nossa gana.
Está em voga hoje todo e qualquer
assunto que diga respeito à princípios e valores, sejam eles quais forem:
religiosos, sociais, culturais, políticos. Tanto faz o tema, o interessante é
se posicionar! A favor ou contra, o que vale é o debate, que nunca esteve tão
na moda. E, convenhamos, exceções à parte, é sofrível observar o quão rasos somos ao nos
"debatermos" por ai com esses
assuntos, dos quais estamos cheios de argumentos "emprestados", sem
fundamentação real, dos quais sabemos tudo pela bendita internet, sem
experimentação alguma, apenas embasados em hipóteses e "achismos". Particularmente,
não vejo nada de glorioso em tentar, à qualquer custo, enfiar goela à baixo uma
opinião, sobrepondo-me aos outros e levando em conta apenas os argumentos que me
sejam convenientes. Sim, pois essa é a definição de debate mais adequada que
posso dar em vista do que se vê por ai hoje em dia. Além do mais, um debate,
por mais saudável que seja, muito dificilmente ( só para não dizer que é
impossível...) suscitará alguma terminação. Quando muito pode servir para
influenciar os "fracos de pensamento", podendo levar à alguma
conclusão precipitada, na maior parte das vezes.
O fruto de um debate! |
Excepcionalmente, esta é uma forma
de comunicação bastante apreciada, e aceita, em nossa cultura pop moderna. E são nesses
debates, virtuais ou não, onde podemos perceber as sutis ( ou nem tanto, pra
falar a verdade...) demonstrações de como as pessoas se beneficiam da tal
liberdade total que me referi logo acima. Valores e princípios que antigamente
eram tidos como perenes, universais, eternos, hoje, graças ao
"avanço" do raciocínio humano, nada mais são do que meros conceitos,
na maior parte das vezes considerados ultrapassados. Se muito, podem ser
vistos, de uma maneira vergonhosamente pejorativa, como velhos preceitos ditados por algum
ancião senil ou por uma cultura arcaica qualquer. Temos orgulho de nossa
formação erudita, à qual sobrepuja implacavelmente quaisquer menções de algo que
venha a arranhar nosso esmalte intelectual. Nem vou falar dos movidos pela pura
ignorância... Enfim, como em um jogo, optamos pelo que nos é conveniente,
baseados em experiências superficiais, somadas à uma incontrolável necessidade
de saciar nossos desejos e ambições, por vezes guiados por um instinto individualista, mas na maior parte
do tempo influenciados pela opinião alheia. E assim escolhemos as
"peças" que melhor se encaixem com o perfil "fake" que definimos
para nossa vida. Enquanto isso, conceitos reais, ou como prefiro chamar costumes, tal qual o respeito e a gentileza, parecem
ser hoje, de maneira incrivelmente inversa,
fatores desconhecidos pela maioria, ou pior, definidores de caráter
fraco e deficiente, praticamente ofensivos ao nosso tão singular e gigantesco
ego.
There's something wrong, mommy... |
Á primeira vista, tudo o que disse
pode parecer tendencioso e carregado de preconceito. E talvez seja mesmo, tendo
em vista os novos valores que foram e estão sendo implementados humanidade à
fora, como um todo. Infelizmente ( ou felizmente!), simplesmente não consigo
engolir tudo isso assim, "numa boa legal". Não há como deixar de
questionar toda essa revolução sócio/cultural ou seja lá como quiserem
denominar esta anarquia instaurada e legalizada que toma conta de todos os
âmbitos de nossa sociedade contemporânea. Não é por que um comportamento,
qualquer que for, se tornou comum que
automaticamente ele será natural! Ou será que sou eu que está com a visão turva,
e todo o resto está certo? ? ? Desde quando violar o direito de todos em prol
do benefício de alguns é "defender os necessitados"? O respeito é ao
mesmo tempo um direito e um dever, que fique bem claro. Quanto maior o numero
de leis, maior o sofrimento de quem está
sujeito à essas mesmas leis, já disse algum sábio... Existem coisas, antigas,
que, se forem simplesmente abolidas ou ignoradas, trarão apenas o caos, onde
quer que seja. Há muito tempo já que aprendi o seguinte: o que é errado, sempre
será errado, mesmo que todo mundo faça; o que é certo sempre será certo, mesmo
que ninguém mais o faça. Aonde está nos levando toda essa liberdade indomável?
Já parou para pensar? Se não parou, deveria. Um último conceito bem simples ,
porém universal: se não sabe pra onde
está indo, como vai saber quando chegar? Só não me venham pedir para definir o
que é certo e errado. Debatamos ( ou, debatemo-nos...) menos e reflexionemos
mais. Ai, quem sabe, da reflexão saia alguma luz verdadeira.
Old fashion? Talvez, mas: "Some things never change..." |