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30 junho 2013

Os anos 80 e a inocência perdida

Essa semana realizei com minhas filhas uma "atividade" que vale a pena contar aqui. Sou nascido em 79, logo os anos 80 foram minha infância. Sou do tempo do pirocoptero, Bozo, Fofão, kichute e todas tranqueiras, definições e personalidades dos quais estão cheios os sítios saudosistas web a fora. Por isso não vou ficar citando trocentas coisas aqui. Só para situar e contextualizar a quem ler. 
Caverna do Dragão... Nada a ver com o nome original,
mas até que ficou bom!
Bem, indo logo ao ponto, o que fiz com minhas filhas foi sentar-me no sofá de casa e assistir a um desenho animado que fez um enorme sucesso no Brasil nessa década. Para mim foi bem emocionante. Nostálgico, com certeza! Era o Dungeons & Dragons, mais conhecido por aqui como Caverna do Dragão. Para quem interessar, deixarei ao final da postagem um link bem completo sobre a série ( que foi uma jogada de marketing para vender um produto de RPG, e não apenas mais um desenho qualquer).
Não me dei conta  do que estava se passando enquanto assistia, a não ser pela gostosa sensação das lembranças felizes que vieram à tona trazidas por rever um desenho pelo qual eu era apaixonado. Mas fiquei observando minhas filhas, Isabela e Beatriz, de seis e quatro anos respectivamente, e suas reações. A menor, que na verdade vai completar quatro anos só em agosto, não entende direito o que acontece. Mas a grande já interage, e ficava o tempo todo me perguntando o que ia acontecer em seguida, porque o cavaleiro falou isso, porque o mago fez aquilo. Vidrada! sabe, não há nada de especial nesse desenho. Nada de transcendental, ou com grandes lições de moral. Em verdade é uma produção bem simples e objetiva, com um enredo infanto juvenil objetiva e até simplória, direcionada à fãs de RPG. Mas foi justamente esse detalhe, a simplicidade, que me fez refletir. Como a simplicidade está fora de moda, não concordam? Bom, pelo menos eu acho que sim. E não que eu seja um cara simples, que não se adapta ao nosso veloz mundo contemporâneo... Até pelo contrário, penso que já estou mais além do limiar da simplicidade crucial... Mas fiquei a observar minhas filhas. Com a idade da maior, eu possuía uma inocência incipiente, natural. Como praticamente toda criança. Inda mais do interior!E... Não que ela não possua essa inocência, mas é diferente, sei lá... É uma inocência afetada, maculada. Pode parecer exagero, mas é assim que sinto. Vejo elas interagindo com meu PC, em joguinhos "inocentes" de colorir ou voltados para crianças da idade delas ( só no domingo, que fique claro!) mas... Até que ponto isso pode ser qualificado de inocente? Será que toda essa tecnologia que nos oferece o mundo moderno, esses luxos, facilidade e confortos hi-fi, ou hi-tech, tanto faz, pode resultar em algum tipo de benefício real? "Ah, tem que por limites", alguém pode dizer. Ok, claro. Eu mesmo imponho limites, mas, isso é o suficiente? Onde foi parar a simplicidade, a pureza das coisas? Cadê as cantigas de roda, brincar de casinha, faz-de-conta, pega-pega ? Onde foi parar a imaginação das crianças? Talvez esteja matriculada em alguma escola de ensino fundamental, junto com as crianças de  três e quatro anos, as quais deveriam estar, na pior das hipóteses, em uma creche, mas de preferência junto da mãe. Ou quem sabe em algum cursinho de língua estrangeira ou   escolinha de futebol ou GR ou balet... Mais provável que esteja hipnotizada, petrificada em frente a um televisor assistindo Phineas e Ferb ou My Litlle Pony...
Sabe, as vezes olho para crianças de seis, sete anos com celulares nas mãos, as vezes notebook e até tablets! Isso aqui, no interior onde vivo, imagina nos grandes centros urbanos, e não consigo deixar de sentir pena desses pobres infantes. Isso inclui minhas filhas, principalmente quando as vejo em frente a tv, inertes. Me dá uma tristeza... Tristeza, sim, pena, por tudo o que elas perderam e perdem. Por muitas não saberem de onde o leite vem. Por nunca terem tomado banho de chuva pulando em poças de lama. Por não verem a magia de uma casinha na arvore, ou por nunca terem brincado com uma boneca de pano com olhos de botão ou um carrinho feito com madeira velha e pregos enferrujados. Mas quem precisa disso, se hoje temos filmes 3D, Playstation 4 e Kinect, não é mesmo? 
Em todo caso, fiquei feliz sim e emocionado, quando dois dias depois de assistirmos o primeiro episódio de Caverna do Dragão, a Isabela me chamou e disse "Papai, vamos assistir aquele desenho que você assistia quando era criança?" Bom, quem sabe a simplicidade ainda possa ser redescoberta? (...)


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