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29 dezembro 2014

Leviatã

Conquanto que n’agua profunda
A luz lentamente enfraquece
No fundo profundo
de nossa mente...
Também de fulgência carece
Uma ‘alma de face iracunda

No breu de uma fenda abissal
Colossos marinhos conspiram
Qual ditos dementes destilam
Sua doce peçonha mortal

E em águas sombrias seguindo
Ao longe um matiz vai surgindo
Num brilho fugaz de esperança

Que esvai-se tão logo a verdade
Distingui no engodo a maldade
Nos olhos do monstro que avança

(Anderson)

17 dezembro 2014

Tempo de reflexão. Natal? Não, não. Todo dia é tempo de reflexão.

Ho, ho, ho!
Daí minha filha Isabela, sete aninhos, chega pra mim e fala: papai (sim, ela ainda me chama de papai, não to inventando. Espero poder dizer isso daqui 10 anos...) por que você não compra um desses vídeo games que controla com o corpo? E eu: Como filha? E ela: desses que a gente pula na frente da tv! (Então entendi que ela estava falando do X-Box Kinect, Nintendo Wii ou Playstation Move) Pensei um pouco e respondi: Olha filha, o papai até queria um desses (adoro games!) mas agora não vai dar, eles custam caro e não temos condições no momento. Mas um dia vou comprar e vamos jogar juntos. Confesso que fiquei orgulhoso da minha resposta “rápida e rasteira”, isso até ela me olhar com os olhinhos brilhando, pois teve uma grande ideia: Papai, pede pro Papai Noel te dar de Natal!  Ai tive que pensar melhor no que falar, já que ela me pegou de surpresa. Mas, não me fiz de rogado e respondi: É que o Papai Noel só dá presente pra criança, filha. Eu já to meio velho pra ganhar presente dele. Ufa! Me safei dessa, pensei comigo mesmo. Só que não. Ela, de imediato, respondeu: Já sei, então eu vou pedir um vídeo game desses pro Papai Noel, ai ta resolvido, a gente divide! E agora, zé, falar o que?
Isso aconteceu comigo essa semana, enquanto aguardávamos no carro minha esposa que estava no mercado. Parece meio bobo e sem graça contando asssim, eu sei, e sem muita noção ficar falando disso assim. Porém é mais profundo que aparenta, acreditem. Não faz muito, acho que uns dois ou três meses atrás, nós estávamos conversamos sobre essas coisas de Papai Noel, eu e a Bela. Ela me disse assim: Eu sei que o Papai Noel não existe, que é você quem compra os presentes e deixa embaixo da árvore. A primeira coisa que pensei foi pedir quem havia dito isso à ela, mas logo imaginei que fora algum coleguinha da escola, e achei melhor não perguntar e tirar o foco da descrença. Olhei pra ela com um ar de “esperteza”, e disse com um sorriso de canto de boca, tentando disfarçar minha surpresa e passar a maior segurança possível do que iria dizer:  Ah, é? Mas quem te falou que é o Papai Noel que compra os presentes? Ele só entrega. Claro que quem compram são os pais, ai o Papai Noel vai e entrega para as crianças que se comportaram. Ele entra “magicamente” nas casas, vai de fininho no quarto das crianças pra confirmar se ta na casa certa e depois deixa o presente. Ela sorriu, olhou de lado como se estivesse pensativa. Não pensei que ia colar. Mas colou. Simplesmente me respondeu:  ah, então tá. Ou seja, já tá dando trabalho fazer com que elas mantenham as inocentes fantasias de criança. E nem me venham com essa de que “nessa idade já não tem mais inocência pois as crianças de hoje em dia são mais precoces” e bla, bla,bla. Claro que são mais precoces. Nem tem como ser diferente, afinal com toda a tecnologia disponível, a quantidade de informação a que elas têm acesso hoje antes dos 10 anos, muitas vezes é mais do que um adulto teria em todo a sua vida, a quinze ou vinte anos atrás. Entretanto, dizer que em virtude disso elas “perdem” a inocência prematuramente é o mesmo que dizer que a culpa de os legumes e verduras que ingerimos hoje terem agrotóxico é dos próprios vegetais! Os limites, os contornos, os horizontes (pelo menos os primeiros) quem precisa definir, aos filhos, somos nós, os pais. E estes devem ser claros, por uma simples razão: serão formadores da própria base existencial deles. Isso no tocante a influência que o “meio” exerce sobre os indivíduos, logicamente. Me refiro ao ambiente em que são criados, tipo de educação, diretrizes primárias. Nem vou citar fatores metafísicos aqui para não parecer mais “lesado” do que de costume. E na verdade to chovendo no molhado, pois já falei disso em um post (link) lá atrás.
Bad-poison-mad vegetables! aham... claro que sim...
Não sou adepto de religião alguma atualmente, ainda que o cristianismo faça todo sentido para mim, mas vou utilizar uma referência da bíblia aqui que possui muita sabedoria em minha modesta opinião e da qual gosto bastante: Coríntios 6:12 “Todas as coisas me são lícitas, porém nem todas me convêm”. (Pra quem torce o nariz quando lê ou ouve uma citação bíblica, me perdoe, mas só lamento. Se realmente acham que tudo se resume ao empirismo e se limita a repudiar tudo que não seja “palpável”, embasado por suas “profundas experiências internéticas” ou por seus distorcidos ensaios existenciais, apenas porque as ideias humanas se degeneram, como aconteceu com a bíblia em suas infindáveis traduções e adaptações, realmente esses sequer sabem porque estão “aqui”. Ainda que achem que saibam. Não que eu saiba, claro...) Pois bem, essa máxima resume bem o que penso sobre o atual estado da sociedade contemporânea mundial. Ou seja: nós todos. Tudo é permitido, tudo vale. Nada é proibido, nada é errado. Tudo é mera questão de ponto de vista. E assim, pouco a pouco, lentamente (ou nem tanto!) as ideias vão apodrecendo. Os ideais vão se esvaindo. Os princípios, os valores vão se esvanecendo e, pior, vão sendo transmutados. Substituídos, eu diria. Tudo o que era tido como “certo” vai se tornando passivo de dúvida. O que era convencionado como “errado”, vai se tonando comum... E logo, normal. Já falei aqui, em outro post, sobre a diferença entre comum e normal, por isso não vou me ater a isso novamente. Enfim, toda essa questão é relativa ao nosso “discernimento”. Em verdade, esta é a pecinha da máquina que “estraga” primeiro, graças a enxurrada de opiniões, versões, discussões e todos os “ões” que nossa infinitamente diversificada era nos proporcionou e continua a proporcionar. Perdemos nossa capacidade perceptiva acerca de tudo o que nos rodea. Chegamos em um grau de “anestesiamento” tão profundo que parece que nada mais nos choca. Nada mais mexe com nossas entranhas. Pelo menos não o bastante. Em resumo, isso tudo tem a ver com a primeira parte do supracitado provérbio bíblico: tudo nos é lícito. Contudo, o que realmente quero chamar atenção aqui é para a segunda parte dele: nem tudo nos convém. Esse, meus caros, é meu “mata-burros” de uma vida toda.
Desde que minhas filhas nasceram, procuro lhes dar uma educação embasada em princípios sólidos e perenes. É claro que muitas e muitas vezes me questiono se não estou sendo por demais hipócrita tentando dar à elas algo que, em verdade, tenho dificuldades em vivenciar na íntegra. Entretanto, isso não vem ao caso, afinal, tenho uma “vasta experiência” em fazer presepada, e, se não posso lhes guiar por um caminho ideal, posso ao menos lhes indicar um caminho menos sofrível... que o meu, pelo menos. Não quero que sigam os meus passos. Quero que vão além de onde eu fui. Todavia, preciso chamar a atenção para o fato de como é trabalhoso manter essa filosofia, essa maneira de educar nos dias de hoje. E não estou falando em mandar pro convento ou proibir televisão, proibir de ouvir tal e qual música (ainda que funk, axé, sertanejos universitários e afins eu “não recomende” para elas...) ou mesmo qualquer coisa do gênero “nazista”. É muito mais sutil que isso. Estou falando de uma educação com princípios bem fácil de entender: roubar é errado, dividir é certo. Ter preguiça é errado, ser diligente é certo. Mentir é errado, falar a verdade é certo. Simples assim (Com certeza eu gostaria de lhes falar da ordem natural das coisas, dizer para elas também que dois homens formam uma “dupla”, e não um “casal”, mas ai já estaria incentivando o preconceito, e seria como antecipar julgamentos que elas farão por si só quando seu tempo chegar). E dentro dessa simplicidade, incluo coisas triviais, tipo explicar para minha filha mais velha (sete anos) que ela não precisa de uma conta no facebook (depois não sabem “com quem” seu filho aprendeu o que é maconha ou teve sua primeira experiência pornográfica... Isso se não acabarem achando que isso é “normal”) ou mesmo que minha outra filha (de cinco anos) não precisa de um celular, pois ela não vai estar em lugar
Certo e errado: questão de ponto de vista ou
de entendimento mesmo???
algum que eu ou sua mãe não estejamos junto com ela, e que o celular serve para que as pessoas que estão longe possam falar conosco, e vice versa (ok, na escola não conta...La nem pode levar celular mesmo.) Ou que tem alguns desenhos animados, por exemplo, que todos os amiguinhos assistem, e que até possuem classificação livre, mas que o papai chato (i’ts me!) diz que não pode por que não são legais (sem falar em todo o restante da programação de tv, aberta ou não, de telejornal à filmes e novelas, que sinceramente, não sei como tem pais que dormem à noite após deixar os filhos assistirem. Juntos!) Pois bem. Claro que eles podem aprender pornografia na escola, ou na rua, e não só na internet! Claro que um celular pode não trazer problemas maiores! Claro que música, seja boa ou ruim, se ouve em qualquer lugar, não só em casa! Claro que desenhos são só desenhos, e, afinal, todo mundo assistiu quando era criança e quase ninguém virou psicopata. Mas...Tudo isso... É necessário? É realmente necessário? Onde está nosso discernimento? Nos convém? Ah, por que todos os amiguinhos dele têm, tadinho! É mesmo? Então vai ver como é o resto da vida dos amiguinhos também, não só o que ele já ostenta nessa idade! Ah, porque eu conheço trocentas crianças que viram/veem (like me...) desenhos violentos e ainda assim não aconteceu nada... Será mesmo? Quanto da psique afetada das pessoas nós podemos identificar, divisar, conhecer, saber, ver? (Médiuns e paranormais não vale opinar aqui!) Ah, por que toda música é arte! Concordo, se estivermos falando de Beethoven, Bach, Vivaldi... (Todo resto, inclusive o rock, de que gosto, é deveras discutível, em maior ou menor grau) Ah, porque todo mundo assiste tv! Claro. Pula no poço também! Até os especialistas dizem que tv demais faz mal! Gente... A inocência é a maior das virtudes que uma criança, enquanto criança, pode possuir. Ela é como se fosse o invólucro de todas as outras virtudes, a “virtude mor”. E como tal, sua importância é imensurável. É como se fosse o próprio leite materno que os médicos todos indicam que as mães deem aos filhos o máximo de tempo possível. E a única maneira de mantermos essa inocência, o máximo que pudermos, é, primordialmente, não “violentando” nossas crianças. Calma, que eu vou explicar! Quando não nos damos ao trabalho de filtrar tudo (que for possível!) a que elas são expostas, quando deixamos que pulem etapas, quando achamos que tudo é normal, que “faz parte do crescimento” só porque a sociedade dita, sem nos importarmos em ponderar se isso é realmente necessário ou sutilmente danoso, estamos, em verdade, violentando nossas crianças. Estamos, perdoem-me a expressão, estuprando-as silenciosamente. E me faço redundante na expressão pois já disse isso em outro post, estamos lhes roubando a própria infância. Tirando-lhes a armadura astral (uia...) que é sua inocência. E sabe o que é pior? O indivíduo nem se dá conta, porquê “sabe de nada, inocente...” (ok. Admito. Trocadilho podre esse.) E o resultado disso não é imediato, não! É a médio, longo prazo. Vai refletir lá na frente, quando forem adolescentes, adultos, lá naquela hora em que, nalgum momento íntimo, lá no fundo da nossa mente, surge discretamente aquele fatídico pensamento: onde foi que eu errei?! Mas ai... Será tarde. E é assim. Simples assim.

Bom, agora vocês podem entender (espero...) um pouco do porquê a minha preocupação com a Bela acreditar no Papai Noel. Não é frescura, ou coisas da cabeça de um cara com a mente turva (tá... talvez um pouco). Faço isso como forma de cultivar sua fantasia, preservar sua inocência o máximo possível. Fazemos uma oração juntos sempre antes de elas irem dormir, eu, a Bela, a Bia e a minha esposa Clê. Ai alguém se levanta e diz: Ah, mas você nem religião tem! Hipócrita. Verdade, não tenho. Mas o que estou passando para elas não tem a ver com religião, e sim noções de respeito e veneração, algo que considero de suma importância na formação do caráter de uma pessoa. Também conto estórias para elas, quase todas as noites. E as preferidas delas, principalmente da mais velha, são as de aventura, como ela mesmo pede. E inventadas na hora! Sem livro, papai! – me pede ela. As que contém fadas, dragões, princesas, castelos, florestas encantadas. As mais fantásticas possíveis. E este é o maior presente que posso lhes dar: a inocência. Claro que um dia elas vão crescer. Já estão
Deep...
crescendo... A inocência, naturalmente, vai se desfazendo. Quiçá se transformando. A fase das perguntas “level hard” já começou, na verdade! E logo, logo, sem que eu perceba talvez, não terei mais menininhas em casa... Mas até lá, farei o possível para que elas tenham uma infância como deve ser, coisa de criança! Não vou ficar antecipando etapas, querendo explicar as complicações do mundo como homofobia ou se é certo ou não usar drogas. Tudo ao seu tempo. Vai chegar a hora que terei que explicar coisa mais difíceis do que “como os gigantes tem um reino acima das nuvens” ou “porquê a armadura do cavaleiro branco não é de outra cor” (verídicas essas!), ai sim, terei que estar preparado. Preparado até para coisas do tipo que um amigo me disse certa vez em tom de chacota: e se tua filha aparecer em casa, com dezesseis, dezessete anos, com uma “namorada” ao invés de um namorado? Que que você vai fazer? - Nada. Respondi. Ai já é uma escolha dela. Como pai, daí em diante, só poderei apoia-la NO QUE FOR PRECISO. E entenda quem tiver entendimento.