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24 agosto 2014

Dias Nublados

O cinza desses dias nublados,
Intermináveis dias nublados...
Tanto a dizer... mas sem palavras.
Me faz lembrar com nostalgia,
Quiçá uma saudosa alegria,
Dos domingos da minha infância.
Nada de especial, em verdade,
E não que os domingos sejam cinza,
Pelo menos não eram, ao contrário,
Os domingos não são cinza.
São verdes. E os sábados incolores.
E a segunda e seus irmãos, estes sim,
Carregam o cinéreo tom em si,
Não por mal, mas por quê assim é.
Pelo menos era assim que eu via...
Visão engraçada essa...
Do tempo que as coisas tinham graça,
Que o melhor da festa,
Como já dizem os lusitanos,
É esperar por ela. E já foi, acho.
Não sei se inda o é.
Se é que foi.
Mas foi junto com meu sorriso,
Antes um sinal,
De que tudo ia acabar bem,
Um dia...
Hoje, é ainda um sinal,
Uma marca translucida de algo que já existiu,
Um estigma forte e marcado,
Tão forte que até parece real,
Aos olhos desatentos,
Tão marcado que por vezes,
Não poucas,
Chega doer na alma,
Tal o esforço para mantê-lo...
E ainda tem o grego.
Essa língua tão sagaz e difícil,
Mas tão sagaz e tão difícil,
Que nem me lembro de quando a aprendi.
Nem como. E nem porquê.
Só me lembro de estar falando,
Sem parar,
Sem palavras,
Com o público me olhando
Sem entender,
Sem ouvir.
E eu ali, parado, todo dia,
O tempo todo.
Em discursos intermináveis,
Ora gritados, ora mudos.
Ora simplesmente falados.
Horas perdidas...
(...)
Mas ninguém fala grego por aqui...
Não os culpo. Afinal, nem na Grécia estamos...
E a sensação de perda,
Que já é ruim quando perdemos algo,
Pode ficar ainda por
Quando nem sabemos o que perdemos...
Mas deve haver algo ainda,
Ainda deve!
Pois se não, que faço eu aqui?
Deve ser essa tal esperança,
Essa ingrata,
Prêmio dos fortes, consolo dos fracos,
Ambígua tal qual a própria morte,
Que assusta os tolos que a ignoram
E encanta os ignorantes tolos.
Mas ao final... ou não...
Me resta a doce lembrança
Dos verdosos e distantes domingos,
Do tempo em que eles eram verdes,
E o cinza, em seus matizes pálidos,
Que por sinal, 
Creio já estar impregnado em meus olhos,
Olhos nublados,
Antes estava apenas e tão somente
Na coloração dos dias da semana,
Frutos da inocente imaginação
De uma criança que a muito se foi...

(Anderson)

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