O cinza desses dias
nublados,
Intermináveis dias
nublados...
Tanto a dizer... mas sem palavras. |
Me faz lembrar com
nostalgia,
Quiçá uma saudosa
alegria,
Dos domingos da minha
infância.
Nada de especial, em
verdade,
E não que os domingos
sejam cinza,
Pelo menos não eram,
ao contrário,
Os domingos não são
cinza.
São verdes. E os
sábados incolores.
E a segunda e seus irmãos,
estes sim,
Carregam o cinéreo tom
em si,
Não por mal, mas por
quê assim é.
Pelo menos era assim que
eu via...
Visão engraçada
essa...
Do tempo que as
coisas tinham graça,
Que o melhor da
festa,
Como já dizem os
lusitanos,
É esperar por ela. E
já foi, acho.
Não sei se inda o é.
Se é que foi.
Mas foi junto com meu
sorriso,
Antes um sinal,
De que tudo ia acabar
bem,
Um dia...
Hoje, é ainda um
sinal,
Uma marca translucida
de algo que já existiu,
Um estigma forte e
marcado,
Tão forte que até
parece real,
Aos olhos desatentos,
Tão marcado que por
vezes,
Não poucas,
Chega doer na alma,
Tal o esforço para
mantê-lo...
E ainda tem o grego.
Essa língua tão sagaz
e difícil,
Mas tão sagaz e tão
difícil,
Que nem me lembro de
quando a aprendi.
Nem como. E nem porquê.
Só me lembro de estar
falando,
Sem parar,
Sem palavras,
Com o público me
olhando
Sem entender,
Sem ouvir.
E eu ali, parado,
todo dia,
O tempo todo.
Em discursos
intermináveis,
Ora gritados, ora
mudos.
Ora simplesmente
falados.
Horas perdidas...
Horas perdidas...
(...) |
Mas ninguém fala
grego por aqui...
Não os culpo. Afinal,
nem na Grécia estamos...
E a sensação de perda,
Que já é ruim quando perdemos
algo,
Pode ficar ainda por
Quando nem sabemos o
que perdemos...
Mas deve haver algo
ainda,
Ainda deve!
Pois se não, que faço
eu aqui?
Deve ser essa tal
esperança,
Essa ingrata,
Prêmio dos fortes, consolo
dos fracos,
Ambígua tal qual a própria
morte,
Que assusta os tolos que
a ignoram
E encanta os
ignorantes tolos.
Mas ao final... ou
não...
Me resta a doce
lembrança
Dos verdosos e
distantes domingos,
Do tempo em que eles eram
verdes,
E o cinza, em seus matizes
pálidos,
Que por sinal,
Creio já estar impregnado em meus olhos,
Olhos nublados,
Antes estava apenas e tão
somente
Na coloração dos dias
da semana,
Frutos da inocente
imaginação
De uma criança que a
muito se foi...
(Anderson)
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