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06 março 2014

Gelo

Sinto as pontas dos dedos.
Face rosada, nem sinal.
Nem o vapor no hálito... Isso é mal...
Tremedeira, só se for por temor.
Calafrios de espanto ou horror,
Mas esse frio... De onde vem?
Um ar gélido, petrificante,
De sequela congelante,
Me sobe à espinha qual serpente,
Víbora sombria de olhar delinquente,
Que se enrola em meu cerne,
Impiedosa, inclemente.





Um sopro frígido ao pé da nuca,
De susto me volto num instante.
E, surpresa, o vazio restante,
Que me faz duvidar do óbvio
Da obviedade tão marcante,
Levando-me à um vil declínio,
Do assombro ao fascínio,
Sem saber de onde vem,
Esta névoa glacial,
Intocável, pura e mortal,
Que me encanta e me seduz,
De frieza doce e letal...



Oh, dúvida lacerante,
Que talha a cútis de minh‘alma
Qual navalha em lisa palma,
Congelando minha essência,
Destruindo a prepotência,
Deste tolo divagador,
Imprestável sonhador,
Iludido ao se encantar
Ao ver graça no perigo
Duma alma sem abrigo,
Que ao relento congelante,
Encontra o cabal jazigo.

(Anderson)

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