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19 março 2014

Celebração

Esta foi uma pequena homenagem que prestei, em meu discurso de encerramento, aos queridos colegas do Curso de Oratória do qual participei entre os dias 10/03 e 19/03 pelo SENAC, o qual foi ministrado pela talentosa instrutora Maria José Andreacci Zuleger. Grato a todos pelos agradáveis momentos que compartilhamos!


Celebração

De fato somos calouros
Desde sempre!
Por certo que inda há medo
Nem tanto quanto mais cedo
Pois já colhem-se alguns louros

Cada qual com seus temores
Cá os viemos exorcizar
Pela busca de um bem falar
Já somos, pois, vencedores

Meus amigos valiosos
Diligentes, corajosos
Sentirei grande saudade

Dos momentos compartidos
Por nossa mestra regidos
E da nossa nova amizade

 (Anderson)

09 março 2014

Festa

Olhares vagos distraídos
Junto à risos embriagados
Com seus gestos desfigurados
Entes símios corrompidos

Mistura de sons e odores
Escarcéu e algazarra
Tudo em prol da dita farra
Turbilhão de turvas cores

Mas no fundo, bem no fundo
Há um só senhor do mundo
Aos corréus do cerne cavo

É o vazio que levam dentro
Nós, vis servos do lamento 
Conjunção de órfão e escravo

                                                         (Anderson)

06 março 2014

Gelo

Sinto as pontas dos dedos.
Face rosada, nem sinal.
Nem o vapor no hálito... Isso é mal...
Tremedeira, só se for por temor.
Calafrios de espanto ou horror,
Mas esse frio... De onde vem?
Um ar gélido, petrificante,
De sequela congelante,
Me sobe à espinha qual serpente,
Víbora sombria de olhar delinquente,
Que se enrola em meu cerne,
Impiedosa, inclemente.





Um sopro frígido ao pé da nuca,
De susto me volto num instante.
E, surpresa, o vazio restante,
Que me faz duvidar do óbvio
Da obviedade tão marcante,
Levando-me à um vil declínio,
Do assombro ao fascínio,
Sem saber de onde vem,
Esta névoa glacial,
Intocável, pura e mortal,
Que me encanta e me seduz,
De frieza doce e letal...



Oh, dúvida lacerante,
Que talha a cútis de minh‘alma
Qual navalha em lisa palma,
Congelando minha essência,
Destruindo a prepotência,
Deste tolo divagador,
Imprestável sonhador,
Iludido ao se encantar
Ao ver graça no perigo
Duma alma sem abrigo,
Que ao relento congelante,
Encontra o cabal jazigo.

(Anderson)

02 março 2014

Solitude que te quero bem

Não confunda solidão com
solitude! A primeira é por ignorãncia, a segunda por opção...
Há um paradigma comportamental que existe desde que o mundo é mundo. Ou, ao menos, desde que o ser-humano se tornou social. Trocando em miúdos: desde sempre. Que somos seres sociáveis, isso aprendemos já na escola. Ou antes. Temos a necessidade de viver em sociedade, afirmam os antropólogos. Almas gêmeas, metade da maçã, caras-metades... Romantismos à parte, estamos sempre à procura de complementos para nossa existência, o que geralmente se traduz na busca de um parceiro para vida à dois (ou à três, a quatro, depende da vontade de cada um em deixar uma prole exponencial. Ou não). Em suma, estamos à todo momento esquadrinhando opções que, teoricamente, nos tragam algum conforto psicológico, aceitação social ou simplesmente um sócio na empreitada existencial à qual estamos condicionados. Não raramente ouvimos depoimento de pessoas que, ao serem questionadas sobre o sentido da vida (coisa que deveríamos fazer diariamente!), acabam por correlacionar este fator à vida familiar, ou, melhor dizendo, à vida conjugal, afinal de contas definir “família” na atual conjuntura sociocultural em que a humanidade se encontra está cada vez mais complexo. A questão primordial, nesse caso, é o fato de as pessoas, de modo geral, estarem acondicionadas à um pensamento, EQUIVOCADO, de que só seremos felizes, ou só nos realizaremos, ou só encontraremos o sentido da vida estando acompanhados. No entanto, na contramão dessa convenção universal humana, inda que inconsciente, vemos a decrepitude dos relacionamentos conjugais, sejam eles longos ou breves, estáveis ou instáveis (isso mesmo, um relacionamento estável não necessariamente tem a ver com a felicidade ou plenitude dos cônjuges, tendo mais relação na verdade com o termo conformismo, ou mesmo comodismo e muitas vezes é apenas questão de conveniência. No geral, atualmente a definição “relacionamento estável” serve apenas para fins judiciais...). Nada mais comum hoje em dia do que encontrarmos casais vivendo de aparências, por mera conformidade, e os motivos variando desde questões financeiras (posses, bens materiais, etc.), bloqueios e traumas psicológicos ou até mesmo por puro status (este último, inclusive, está bem comum nos nossos círculos sociais mais próximos). Invariavelmente, qualquer que seja a causa, não vejo como não atrelar estes tipos de relacionamentos “teatrais” aos monstruosos problemas sócio comportamentais que nossa sociedade contemporânea apresenta. Sem a menor sombra de dúvida, pais e mães problemáticos e infelizes dificilmente criarão filhos de caráter forte e princípios bem definidos. À parte as predefinições karmáticas, que estão se tornando cada dia menos influentes (positivamente, digo), nos deixando a todos à pura mercê das influências do meio.
Mas deixemos a análise “psico-antropologica” de lado (se é que isso é possível...) e voltemos ao nosso paradigma. Me refiro especificamente à clássica confusão que fazemos ao não diferirmos SOLIDÃO de SOLITUDE. Antes que algum letrado em terminologias me crucifique, vamos às definições contemporâneas dos termos. Quando digo solidão, quero referir-me ao tão conhecido e, por que não dizer, querido sentimento vastamente difundido nas melosas letras de músicas e poesias de amor, cantado pelos boêmios, poetas, pagodeiros, sertanejos e até roqueiros mestres das dores de cotovelo (ok, peguei pesado). Esse sentimento que nos faz achar que precisamos necessariamente estar acompanhados para podermos ser completos. E, infelizmente, é o grande impulsionador de casamentos fracassados tão comumente encontrados aos “balaios” por ai. A pessoa sente um vazio, uma vontade de compartilhar, uma falta (e nem sabe do que...) e de repente, pimba! La está a sua alma gêmea, aquela pessoa agradável, bonita, inteligente, engraçada, esclarecida, alegre, perfeita (claro que estou exagerando, mas só para frisar) que por acaso você está saindo, ou namorando, ou acabou de conhecer, tanto faz, e é a solução para seus problemas. Casam (ou apenas partem para uma “união estável”, ta na moda hoje...) “Agora sim vou ser feliz”!  Só que não. O vazio continua. Se esconde por um tempo, mas volta. Assombra. Muda, mas nunca some... Por que isso acontece? Muito simples: não era de companhia que necessitávamos para solucionar nosso “problema”. Em verdade, nem tínhamos um problema, o que tínhamos (e temos) é um estado de espirito do qual não temos conhecimento, com o qual não sabemos lidar.
Que tal umas férias aqui? Tipo, uns 30 anos...
Um parêntese aqui (mais um, rsrsrs): em hipótese alguma estou me posicionando contrário ao casamento, união conjugal ou qualquer relacionamento à dois, e sim apenas expondo um fator determinante nos FRACASSOS destes quando realizados sem a devida compreensão, por parte de ambos, acerca dos sentimentos individuais da cada um.
O que acontece na prática, é que este vazio, ao qual chamamos solidão, até existe. E o afastamento mesmo da alguém querido nos faz sentir saudade, o que é prova de que a solidão é real. Porém, muitas vezes (muitas mesmo!) não é com um parceiro que vamos preencher essa lacuna. E quem consegue compreender isso, acaba por descobrir um novo sentimento, totalmente voluntário e sem relação direta com sofrimento. Um estado que, ouso dizer, somente os espíritos livres, as almas mais sábias conseguem alcançar. Mas a cada dia que passa é mais raro encontrar seres que compreendam isso. E, por amostragem, é menor ainda o número daqueles que vivem esse princípio. Encontrar alguém que realmente domine esta arte? Ai é bem provável que teríamos que dar um pulo ali, no Tibete. Conheço algumas pessoas que tem essas características. Claro que ainda não dominam, mas estão no caminho certo, o da compreensão, e por observação afirmo que sofrem mais com a pressão que a sociedade exerce, cobrando seus padrões de comportamento e tudo mais, do que com sua opção de isolamento. Está tão incrustada em nossa cultura essa questão social, que até existe um termo pós-moderno para definir esse tipo de pessoa reclusa que temos por ai: antissocial. E aqui temos outro grande equívoco. Uma pessoa optante da solitude, não necessariamente é antissocial, e vice-versa. Um antissocial está mais para alguém solitário ao extremo, que de tanto sentir falta de uma companhia que o compreenda, que o aceite, que o ame, acaba por isolar-se de tudo e todos, tornando-se muitas vezes inconveniente e até desagradável, e por consequência perde o feeling de lidar com pessoas, e isso, meus amigos, é exatamente o que o difere do amante da solitude. Aquele que vive em um isolamento voluntário, recluso por opção, geralmente o faz na busca de sua paz interior e  não tem dificuldades para lidar com os outros, pois já compreendera o significado de seus sentimentos e superara essa questão tão basal sobre necessidade de relacionamento, e sabe que isso é meramente um padrão social imposto pela sociedade. Obviamente que isto não torna suas vidas mais fáceis. Não necessariamente. A solitude existe a mais tempo do que imaginamos, e já foi mais comum do que supomos. Nos primórdios era fácil se isolar. Bastava que nos mudássemos para as montanhas, ou para uma floresta, um monastério até. E voilá, tínhamos um monge! Hoje não é mais tão simples assim. Não dá simplesmente para largar tudo e: #partiu montanha! E olha que tenho conhecimento de verdadeiros monges contemporâneos, que vivem suas vidas, tem seus afazeres, seus trabalhos, eventualmente famílias, e conseguem manter um grau de isolamento do mundo de dar inveja a qualquer shaolin. E isso tudo sem morar em uma caverna...

Que feio... Fazer isso com seus amigos
antisociais, digo, amantes da solitude!
Enfim, há que se fazer uma breve reflexão (#ficadica!) sobre esta questão, a qual considero de suma importância para aqueles realmente interessados em preencher estas tão famigeradas lacunas existências que tanto nos atormentam. O primeiro passo, eu diria, seria tomarmos mais cuidado ao ficarmos de bulling com aqueles nossos amigos “forever alones” (olha lá, sem ficar pensando em ninguém agora, hein!?) que gostamos de chatear com aquelas piadinhas toscas relacionadas à antissocial, postando memes de troll faces nas redes sociais e marcando eles, esse tipo de coisa. Não os desprezemos, pois, já ouvi de um sábio certa vez, “até entre os deuses existem aqueles que vivem isolados, no entanto, não raramente, é nesses que se encontram as essências mais puras e piedosas que possam haver”. Foi mais ou menos isso, acho. Todavia, talvez, apenas talvez, esses esquisitões sejam mais felizes no mundinho deles, sozinhos, do que nós acompanhados por todos os lados... Menos o de dentro...